A disciplina do pensamento
1 parte
O pensamento, dizíamos, é
criador.
Não atua somente em torno de nós, influenciando nossos
semelhantes para o bem ou para o mal; atua principalmente em nós; gera
nossas palavras, nossas ações e, com ele, construímos, dia a dia, o
edifício grandioso ou miserável de nossa vida presente e futura.
Modelamos nossa alma e seu invólucro com os nossos pensamentos;
estes produzem formas, imagens que se imprimem na matéria sutil, de que o
corpo fluídico é composto.
Assim, pouco a pouco, nosso ser povoa-se de
formas frívolas ou austeras, graciosas ou terríveis, grosseiras ou
sublimes; a alma se enobrece, embeleza ou cria uma atmosfera de
fealdade.
Segundo o ideal a que visa, a chama interior aviva-se ou
obscurece-se.
Não há assunto mais importante que o estudo do pensamento,
seus poderes e sua ação.
É a causa inicial de nossa elevação ou de
nosso rebaixamento; prepara todas as descobertas da Ciência, todas as
maravilhas da Arte, mas também todas as misérias e todas as vergonhas da
humanidade.
Segundo o impulso dado, funda ou destrói as instituições como os
impérios, os caracteres como as consciências.
O homem só é grande, só
tem valor pelo seu pensamento; por ele suas obras irradiam e se
perpetuam através dos séculos.
O Espiritualismo experimental, muito melhor que as doutrinas
anteriores, permite-nos perceber, compreender toda a força de projeção
do pensamento, que é o princípio da comunhão universal.
Vemo-lo agir no
fenômeno espírita, que facilita ou dificulta; seu papel nas sessões de
experimentação é sempre considerável.
A Telepatia demonstrou-nos que as almas podem impressionar-se,
influenciar-se a todas as distâncias; é o meio de que se servem as
humanidades do espaço para comunicarem entre si através das imensidades
siderais.
Em qualquer campo das atividades sociais, em todos os domínios
do mundo visível ou invisível, a ação do pensamento é soberana; não é
menor sua ação, repetimos, em nós mesmos, modificando constantemente
nossa natureza íntima.
As vibrações de nossos pensamentos, de nossas palavras,
renovando-se em sentido uniforme, expulsam de nosso invólucro os
elementos que não podem vibrar em harmonia com elas; atraem elementos
similares que acentua as tendências do ser.
Uma obra, muitas vezes
inconsciente, elabora-se; mil obreiros misteriosos trabalham na sombra;
nas profundezas da alma esboça-se um destino inteiro; em sua ganga o
diamante purifica-se ou perde o brilho.
Se meditarmos em assuntos elevados, na sabedoria, no dever, no
sacrifício, nosso ser impregna-se, pouco a pouco, das qualidades de
nosso pensamento.
É por isso que a prece improvisada, ardente, o impulso
da alma para as potências infinitas, tem tanta virtude.
Nesse diálogo
solene do ser com sua causa, o influxo do Alto invade-nos e desperta
sentidos novos.
A compreensão, a consciência da vida aumenta e sentimos, melhor do
que se pode exprimir, a gravidade e a grandeza da mais humilde das
existências.
A Oração, a Comunhão pelo Pensamento com o universo
espiritual e divino é o esforço da alma para a beleza e para a verdade
eternas; é a entrada, por um instante, nas esferas da vida real e
superior, aquela que não tem termo.
Se, ao contrário, nosso pensamento é inspirado por maus desejos,
pela paixão, pelo ciúme, pelo ódio, as imagens que cria sucedem-se,
acumulam-se em nosso corpo fluídico e o entenebrecem.
Assim, podemos à
vontade fazer em nós a luz ou a sombra, o que afirmam tantas
comunicações de além-túmulo.
Somos o que pensamos, com a condição de
pensarmos com força, vontade e persistência.
Mas, quase sempre, nossos pensamentos passam constantemente de um a
outro assunto.
Pensamos raras vezes por nós mesmos, refletimos os mil
pensamentos incoerentes do meio em que vivemos.
Poucos homens sabem
viver do próprio pensamento, beber nas fontes profundas, nesse grande
reservatório de inspiração que cada um traz consigo, mas que a maior
parte ignora.
Por isso criam um invólucro povoado das mais disparatadas formas.
Seu Espírito é como uma habitação franca a todos os que passam.
Os raios
do bem e as sombras do mal lá se confundem, num caos perpétuo.
É o
combate incessante da paixão e do dever, em que, quase sempre, a paixão
sai vitoriosa.
Antes de tudo, é preciso aprender a fiscalizar os
pensamentos, a discipliná-los, a imprimir-lhes uma direção determinada,
um fim nobre e digno.
A fiscalização dos pensamentos implica a fiscalização dos atos,
porque, se uns são bons, os outros sê-lo-ão igualmente, e todo o nosso
procedimento achar-se-á regulado por uma concatenação harmônica.
Todavia, se nossos atos são bons e nossos pensamentos maus, apenas
haverá uma falsa aparência do bem e continuaremos a trazer em nós um
foco malfazejo, cujas influências, mais cedo ou mais tarde,
derramar-se-ão fatalmente sobre nossa vida.
Às vezes observamos uma contradição surpreendente entre os
pensamentos, os escritos e as ações de certos homens, e somos levados,
por essa mesma contradição, a duvidar de sua boa-fé, de sua sinceridade.
Muitas vezes não há mais do que uma interpretação errônea de nossa
parte.
Os atos desses homens resultam do impulso surdo dos pensamentos e
das forças que eles acumularam em si no passado.
Suas aspirações atuais, mais elevadas, seus pensamentos mais
generosos traduzir-se-ão em atos no futuro.
Assim, tudo se combina e
explica quando se consideram as coisas do largo ponto de vista da
evolução; ao passo que tudo fica obscuro, incompreensível,
contraditório, com a teoria de uma vida única para cada um de nós.
É bom viver em contato pelo pensamento com os escritores de gênio,
com os autores verdadeiramente grandes de todos os tempos e países,
lendo, meditando suas obras, impregnando todo o nosso ser da substância
de sua alma.
As radiações de seus pensamentos despertarão em nós efeitos
semelhantes e produzirão, com o tempo, modificações de nosso caráter
pela própria natureza das impressões sentidas.
E necessário escolhermos com cuidado nossas leituras, depois
amadurecê-las e assimilar-lhes a quintessência.
Em geral lê-se demais,
lê-se depressa e não se medita.
Seria preferível ler menos e refletir
mais no que se leu.
É um meio seguro de fortalecer nossa inteligência, de colher os
frutos de sabedoria e beleza que podem conter nossas leituras.
Nisso,
como em todas as coisas, o belo atrai e gera o belo, do mesmo modo que a
bondade atrai a felicidade, como o mal atrai o sofrimento.
O estudo silencioso e recolhido é sempre fecundo para o
desenvolvimento do pensamento.
É no silêncio que se elaboram as grandes
obras.
A palavra é brilhante, mas degenera demasiadas vezes em conversas
estéreis, às vezes maléficas; com isso, o pensamento se enfraquece e a
alma esvazia-se.
Ao passo que na meditação o Espírito se concentra,
volta-se para o lado grave e solene das coisas; a luz do mundo
espiritual banha-o com suas ondas.
Há em volta do pensador grandes seres invisíveis que só querem
inspirá-lo; é à meia-luz das horas tranqüilas ou então à claridade
discreta da lâmpada de trabalho que melhor podem entrar em comunhão com
ele.
Em toda parte, e sempre uma vida oculta mistura-se com a nossa.
Evitemos as discussões ruidosas, as palavras vãs, as leituras
frívolas.
Sejamos sóbrios em relação aos jornais, pois a sua leitura,
fazendo-nos passar continuamente de um assunto para outro, torna o
Espírito ainda mais instável.
Texto do Livro:- O Problema do Ser, do Destino e da Dor
Autor: Leon Denis
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