sábado, 28 de março de 2015

A Ironia e a Verdade


 A Ironia e a Verdade

Nas grandes horas, nunca falta a ironia, em derredor dos servidores da Verdade Eterna. 

E, para confortar os seus seguidores, suportou-a Jesus, heroicamente, no extremo testemunho.

Amara a todas as criaturas de seu caminho, com igual devotamento, servira-as, indistintamente, entregando-lhes os bens de Deus, sem retribuição, exemplificara a simplicidade fiel e multiplicara os beneficiários de todos os matizes, em torno de seu coração por onde passasse. 

Desdobrava-se-lhe o Apostolado Divino, sem vantagens materiais e sem interesses inferiores, mas os homens arraigados à Terra não lhe toleraram as revelações do Céu.

 Porque não podiam destruir-lhe a verdade, entregaram-no à justiça do mundo e, tão logo organizado o processo infamante, a ironia rondou o Senhor até a crucificação.

Trouxera o Evangelho Libertador à Humanidade e recebeu a calúnia e a perseguição. 

Ele, que ouvia a Voz Suprema, foi preso por varapaus.

Distribuíra benefícios para todos os séculos, contudo, foi segregado num cárcere. 

Vestira as almas de esperança e paz, no entanto, impuseram-lhe a túnica do escárnio. 

Ensinara sublimes lições de renúncia e humildade e foi submetido a perturbadores interrogatórios pelos acusadores sem consciência.

Rompera as algemas da ignorância, entretanto, foi coagido a aceitar a cruz. 

Coroou a fronte dos semelhantes com a luz da libertação espiritual, todavia, foi coroado de espinhos ingratos. 

Oferecera carícias aos sofredores e desamparados do mundo, recebendo açoites e bofetadas. 

Fundara o Reino do Amor Universal e obrigaram-no a empunhar uma cana à guisa de cetro.

Ensinou a ordem entre os homens pela perfeita fidelidade ao Supremo Senhor e o boato lhe pôs na boca expressões que nunca pronunciou. 

Abrira na Terra a fonte das Águas Vivas, entretanto, deram-lhe vinagre quando tinha sede. 

Ele que amara a simplicidade, a religião e o respeito, foi crucificado seminu, sob o cuspo da perversidade, entre dois ladrões.

Jesus, porém, sentindo embora a ironia que o cercava, não reclamou, nem feriu a ninguém, não comprometeu os companheiros, nem exigiu a consideração de seus deveres. 

Compreendeu a ignorância dos homens, rogou para eles o perdão do Pai e dirigiu-se a outros trabalhos, no seu divino serviço à Humanidade.

Nenhum servidor fiel do bem, portanto, escapará ao assédio da ironia. 

É preciso, porém, recordar o Mestre, evitar o escândalo, pedir ao Supremo Pai pelos escarnecedores infelizes e continuar trabalhando com o Senhor, dentro da mesma confiança do primeiro dia.

Livro:- “Coletâneas do Além” 
 Espíritos Diversos
Francisco Cândido Xavier

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