quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Onde está o humanismo?





Onde está o humanismo? 
 




O século 21, início do terceiro milênio, anunciava-se como era de plena fruição das conquistas científicas e tecnológicas tão avançadas. 
 
Reduziu-se a mortalidade infantil, prolongou-se a longevidade, ampliou-se o acesso à escolarização. 
 
Vive-se um estágio de maravilhas.

Será mesmo assim? 
 
As pessoas se tornaram melhores, mais verdadeiras, mais confiáveis, tendentes ao convívio pacífico e à harmonização? 
 
Ou vivencia-se a ambiguidade, a hipocrisia, a mentira e a contínua busca pelo próprio interesse? 
 
Há quantos séculos a criatura humana disseminou-se pelo planeta e a matéria de que é formada continua essa miséria de contradições?

Ouso afirmar que a coragem é algo que praticamente desapareceu do gênero humano, ao menos para motivar gestos nobres. 
 
Ela parece ter se abrigado no lado podre da vida. 
 
Corajosos são os desenvoltos infratores que não respeitam a vida, nem a idade, nem o sexo, nem a condição de fragilidade de suas vítimas.

Somente alguns poucos pensadores detectam a falência moral da contemporaneidade. 
 
Filósofos ateus tais como Michel Onfray são fiéis observadores dessa espécie de "negação da humanidade dentro da pessoa e dos corpos de certos homens".

A desumanização é democrática:-
- Há uma unidade absoluta da espécie, sejam carrascos ou vítimas, senhores e escravos, "todos colocados sob a mesma insígnia, homens, desesperadamente homens, mais próximos nos seus desvios e diferenças do que o último dos homens e o primeiro animal".

Somos na verdade racionais? 
 
Ou nos portamos instintivamente, com receio de perder poder ou quireras dele? 
 
Somos seres pensantes ou capachos? 
 
Curvamo-nos servilmente perante quem detém qualquer espécie de autoridade e poderá nos prejudicar?

Se os seres humanos fossem na verdade "racionais", então compreenderiam que "as hierarquias são fictícias, as desigualdades fantoches, nada de super-homens nem de sub-homens, nada de homens transformados em animais, ao passo que outros teriam recebido a unção dos deuses".

Não está fácil redescobrir o humanismo, quando poucos querem fazer do semelhante um tapete para melhor caminhar rumo ao seu próprio e exclusivo interesse e muitos se submetem a servir de sabujos, porque recolherão as migalhas distribuídas parcimoniosamente pelo transitório detentor do poder. 
 
* JOSÉ RENATO NALINI é Corregedor Geral da Justiça do Estado de São Paulo, biênio 2012/2013. 

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