Natal, validade temporária
Presenciamos uma cena num supermercado, há apenas alguns dias depois de
um Natal, que nos levou a uma reflexão sobre a validade temporária do
espírito natalino.
Estávamos na fila de um caixa e na nossa frente um
garoto que, ao pedir que lhe desse dinheiro para pagar o pacote de
açúcar e de café, que trazia nas mãos, teve a sua iniciativa bruscamente
interrompida.
Ato contínuo, ao seu pedido, surgiu um segurança
bem trajado, boa aparência pessoal e avantajada compleição física
que,inclinando-se para o garoto, disparou a seguinte frase:-
- "Você tem
trinta segundos para cair fora da loja...29, 28, 27...".
Assustado, o
garoto largou as mercadorias e saiu em disparada.
Essa foi a
constrangedora cena protagonizada por um garoto pobre e um segurança
despreparado profissionalmente.
No exato momento nos veio a mente o
pensamento do pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948), que dizia -
"a pobreza é a mais cruel das violências".
Mesmo que o garoto
estivesse simulando uma eventual compra, apenas para comover as pessoas a
lhe dar dinheiro, a orientação da empresa poderia ser outra.
Acreditamos
que o segurança agiu por pura ignorância, que o dicionário conceitua
como:-
- "Ausência de conhecimento, falta de saber, condição de quem não é
instruído.
Estado de quem ignora ou desconhece alguma coisa, não tem
conhecimento dela."
Foi exatamente o que o funcionário
demonstrou não ter, conhecimento dos mais elementares princípios de
respeito ao ser humano, de cidadania e da essência dos programas de
responsabilidade social, cujos resultados têm sido eficazes.
Cabe às
empresas capacitar a todos os seus dirigentes e funcionários, a dar
soluções adequadas a cada uma das situações similares à presenciada por
nós.
A inadequada atitude do segurança pode ter motivado no
garoto o espírito de revolta contra a sociedade.
A cena de discriminação
ocorrida no supermercado nos leva a concluir que Albert Einstein
(1879-1955) tinha razão:-
- "É mais fácil quebrar um átomo do que um
preconceito."
A nossa esperança é que a (curta) temporada de
espírito natalino agregue valores não materiais ao nosso cotidiano,
fazendo com que o preconceito, a discriminação e qualquer outro tipo de
exclusão social sejam eliminados da nossa sociedade.
FAUSTINO VICENTE é Consultor de Empresas e de Órgãos Públicos, Professor e Advogado.
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