Variações de Humor
– Eu estava muito bem, saudável, animado…
De repente, sem motivo
palpável, caí na “fossa” – uma angústia invencível, uma profunda
sensação de infelicidade, como se a vida não tivesse mais graça…
Queixas assim são frequentes nas pessoas que pro¬curam o Centro
Espírita.
Nesse estado toma corpo, não raro, a ideia de que a morte é a
solução.
Conversávamos com um rapaz que tentara o suicídio ingerindo substância tóxica.
Socorrido a tempo, amargava sofrida recuperação.
Tentamos definir o motivo de tão grave iniciativa:-
– Alguma desilusão sentimental?
– Absolutamente.
Não tenho namorada.
– Problemas familiares?
– Pelo contrário.
Dou-me muito bem com meus pais e irmãos.
– Perdeu o emprego?
– Trabalho há anos na mesma firma.
O patrão parece contente comigo.
– Então, o que foi?
– É que eu estava entediado de viver.
Entrei em esta¬do de tristeza e achei que seria melhor morrer.
– Já se sentiu assim, anteriormente?
– Sim, de vez em quando…
Em Psicologia o paciente poderia ser definido como ciclotímico,
alguém com temperamento sujeito a variações intensas de humor – alegria e
tristeza, euforia e angústia, serenidade e tensão.
Tem períodos de
grande energia, confiança, exaltação, alternados com aflições.
Muita
disposição e iniciativas hoje; amanhã, temores e inibições.
Os períodos negativos podem prolongar-se, instalando a depressão, a
exigir tratamento especializado na área da psiquiatria.
Como ela se
alterna com estados de euforia, em que o paciente parece totalmente
recuperado, sem que nada tenha ocorrido para justificar a mudança de
humor, emprega-se a expressão “depressão endógena”, algo que tem sua
origem nas tendências constitucionais herdadas, algo que faz parte da
personalidade do indivíduo.
Há uma retificação a fazer.
A tendência à depressão é uma herança,
realmente, não de nossos pais, mas de nós mesmos, porquanto as
características fundamentais de nossa personalidade representam,
essencialmente, a soma de nossas experiências em vidas pretéritas.
O que fizemos no passado determina o que somos no presente.
Poderíamos
colocar em dúvida a justiça de Deus se assim não fosse, porquanto é
inadmissível, além de não encontrar nenhum respaldo científico, a
existência de uma herança psicológica embutida nos elementos genéticos.
O que pesa sobre nossos ombros, favorecendo os estados depressivos, é a
carga dos desvios cometidos, das tendências inferiores desenvolvidas,
dos vícios cultivados, do mal praticado.
Há pessoas que, pressionadas
por esse peso mergulham tão fundo na angústia que parecem cultivar a
volúpia do sofrimento, com o que comprometem a própria estabilidade
física, favorecendo a evolução de desajustes intermináveis.
De certa forma somos todos ciclotímicos, temos variações de humor,
sem que isso se constitua num estado mórbido:-
- Hoje em paz com a vida;
amanhã brigados com a Humanidade.
Nas nuvens por algum tempo; depois na
fossa.
E nem sempre, como ocorre com o paciente ciclotímico, há justificativa
para essa alternância.
Pelo contrário:-
- Frequentemente nosso humor
opõe-se às circunstâncias, como o indivíduo plenamente realizado no
terreno afetivo, social e profissional que, não obstante, experimenta
períodos de angústia; no outro extremo, o doente preso ao leito,
padecendo dores e incômodos, que tem momentos de indefinível alegria e
bem-estar.
Essa ciclotimia guarda relação com os processos de influência
espiritual.
Estados depressivos podem originar-se da atuação de
Espíritos perturbados e perturbadores, que consciente ou
inconscientemente nos assediam.
Popularmente emprega-se o termo encosto
para esse envolvimento.
Por outro lado, os estados de euforia, sem motivo aparente, resultam do
contato com benfeitores espirituais que imprimem em nosso psiquismo algo
de suas vibrações alentadoras.
– Hoje estou em estado de graça.
Acordei bem disposto, feliz, sem nenhum
grilo na cabeça – diz alguém, sem saber que tal disposição é fruto de
ajuda recebida no plano espiritual durante as horas de sono físico,
favorecendo lhe um “alto astral”.
Importante lembrar, também, o ambiente como fator de indução que pode precipitar estados de depressão ou euforia.
Num velório, onde os familiares do morto deixam-se dominar pelo
desespero, em angústia extrema, marcada por gritos e choro convulsivo,
muitas pessoas se sentirão deprimidas, porquanto os sentimentos
negativos são tão contagiosos como uma gripe.
Se não possuímos defesas
espirituais tenderemos a assimilá-los com muita facilidade.
Inversamente, comparecendo a uma reunião de cunho religioso, onde se
cultua a prece, no empenho de comunhão com a Espiritualidade, ouvindo
exortações relacionadas com a virtude e o bem, experimentaremos
maravilhosa sensação de paz, como se houvéssemos ingerido milagroso
elixir.
Há outro aspecto muito interessante, abordado pelo Espírito François
de Genève, no capítulo V, de O Evangelho segundo o Espiritismo:-
- Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos
corações e vos leva a considerar amarga a vida?
É que o vosso Espírito,
aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo que
lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele.
Reconhecendo
inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a
influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia e
vos julgais infelizes.
Crede-me, resisti com energia a essas impressões, que vos enfraquecem a
vontade.
São inatas no espírito de todos os homens as aspirações por uma
vida melhor; mas, não as busqueis neste mundo e, agora, quando Deus vos
envia os Espíritos que lhe pertencem, para vos instruírem acerca da
felicidade que Ele vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da
libertação, para vos ajudar a romper os liames que vos mantém cativo o
Espírito.
Lembrai-vos de que, durante o vosso degredo na Terra, tendes
que desempenhar uma missão de que não suspeitais, quer dedicando-vos à
vossa família, quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos
confiou.
Se, no curso desse degredo-provação, exonerando-vos dos vossos
encargos, sobre vós desabarem os cuidados, as inquietações e
atribulações, sede forte e corajosa para suportá-los.
Afrontai-os
resolutos.
Duram pouco e vos conduzirão à companhia dos amigos por quem
chorais e que, jubilosos por ver-vos de novo entre eles, vos estenderão
os braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da
Terra.
Podemos concluir, em resumo, que a ciclotimia de nossa personalidade
ocorre em função de pressões ambientes, de influências espirituais, do
peso do passado e das saudades do Além.
E como superar as variações de humor, mantendo a serenidade e a paz em todas as situações?
É evidente que não o faremos da noite para o dia, como quem opera um
prodígio, mesmo porque isso envolve uma profunda mudança em nossa
maneira de pensar e agir, o que pede o concurso do tempo.
Considerando, entretanto, que influências boas ou más passam
necessariamente pelos condutos de nosso pensamento, podemos começar com o
esforço por disciplinarmos nossa mente, não nos permitindo ideias
negativas.
O apóstolo Paulo, orientando a comunidade cristã, em relação aos
testemunhos necessários, ressalta bem isso, ao proclamar, na Epístola
aos Filipenses (4::
Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo,
tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se
alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o
vosso pensamento.
Recadinhos ao leitor:-
– Mexa-se.
Desenvolva atividades.
Ninguém “cai na fossa”; geralmente
entramos nela quando renunciamos a uma vida ativa e empreendedora.
– Policie sua casa mental.
Estados depressivos começam com insinuantes ideias infelizes.
– Ainda que não se sinta disposto, cultive a convivência com familiares,
amigos, colegas de profissão.
O isolamento contraria a natureza
sociável do ser humano, favorecendo a instalação de desajustes íntimos.
Muita Paz!
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