terça-feira, 16 de julho de 2013

Variações de Humor





Variações de Humor

– Eu estava muito bem, saudável, animado… 

De repente, sem motivo palpável, caí na “fossa” – uma angústia invencível, uma profunda sensação de infelicidade, como se a vida não tivesse mais graça…

Queixas assim são frequentes nas pessoas que pro¬curam o Centro Espírita. 

Nesse estado toma corpo, não raro, a ideia de que a morte é a solução.

Conversávamos com um rapaz que tentara o suicídio ingerindo substância tóxica. 

Socorrido a tempo, amargava sofrida recuperação.

Tentamos definir o motivo de tão grave iniciativa:-
– Alguma desilusão sentimental?

– Absolutamente. 

Não tenho namorada.

– Problemas familiares?

– Pelo contrário. 

Dou-me muito bem com meus pais e irmãos.

– Perdeu o emprego?

– Trabalho há anos na mesma firma. 

O patrão parece contente comigo.

– Então, o que foi?

– É que eu estava entediado de viver. 

Entrei em esta¬do de tristeza e achei que seria melhor morrer.

– Já se sentiu assim, anteriormente?

– Sim, de vez em quando…

Em Psicologia o paciente poderia ser definido como ciclotímico, alguém com temperamento sujeito a variações intensas de humor – alegria e tristeza, euforia e angústia, serenidade e tensão. 

Tem períodos de grande energia, confiança, exaltação, alternados com aflições. 

Muita disposição e iniciativas hoje; amanhã, temores e inibições.

Os períodos negativos podem prolongar-se, instalando a depressão, a exigir tratamento especializado na área da psiquiatria. 

Como ela se alterna com estados de euforia, em que o paciente parece totalmente recuperado, sem que nada tenha ocorrido para justificar a mudança de humor, emprega-se a expressão “depressão endógena”, algo que tem sua origem nas tendências constitucionais herdadas, algo que faz parte da personalidade do indivíduo.

Há uma retificação a fazer. 

A tendência à depressão é uma herança, realmente, não de nossos pais, mas de nós mesmos, porquanto as características fundamentais de nossa personalidade representam, essencialmente, a soma de nossas experiências em vidas pretéritas.

O que fizemos no passado determina o que somos no presente. 

Poderíamos colocar em dúvida a justiça de Deus se assim não fosse, porquanto é inadmissível, além de não encontrar nenhum respaldo científico, a existência de uma herança psicológica embutida nos elementos genéticos.

O que pesa sobre nossos ombros, favorecendo os estados depressivos, é a carga dos desvios cometidos, das tendências inferiores desenvolvidas, dos vícios cultivados, do mal praticado. 

Há pessoas que, pressionadas por esse peso mergulham tão fundo na angústia que parecem cultivar a volúpia do sofrimento, com o que comprometem a própria estabilidade física, favorecendo a evolução de desajustes intermináveis.

De certa forma somos todos ciclotímicos, temos variações de humor, sem que isso se constitua num estado mórbido:-
- Hoje em paz com a vida; amanhã brigados com a Humanidade. 

Nas nuvens por algum tempo; depois na fossa.

E nem sempre, como ocorre com o paciente ciclotímico, há justificativa para essa alternância. 

Pelo contrário:-
- Frequentemente nosso humor opõe-se às circunstâncias, como o indivíduo plenamente realizado no terreno afetivo, social e profissional que, não obstante, experimenta períodos de angústia; no outro extremo, o doente preso ao leito, padecendo dores e incômodos, que tem momentos de indefinível alegria e bem-estar.

Essa ciclotimia guarda relação com os processos de influência espiritual. 

Estados depressivos podem originar-se da atuação de Espíritos perturbados e perturbadores, que consciente ou inconscientemente nos assediam. 

Popularmente emprega-se o termo encosto para esse envolvimento.

Por outro lado, os estados de euforia, sem motivo aparente, resultam do contato com benfeitores espirituais que imprimem em nosso psiquismo algo de suas vibrações alentadoras.

– Hoje estou em estado de graça. 

Acordei bem disposto, feliz, sem nenhum grilo na cabeça – diz alguém, sem saber que tal disposição é fruto de ajuda recebida no plano espiritual durante as horas de sono físico, favorecendo lhe um “alto astral”.

 Importante lembrar, também, o ambiente como fator de indução que pode precipitar estados de depressão ou euforia.

Num velório, onde os familiares do morto deixam-se dominar pelo desespero, em angústia extrema, marcada por gritos e choro convulsivo, muitas pessoas se sentirão deprimidas, porquanto os sentimentos negativos são tão contagiosos como uma gripe. 

Se não possuímos defesas espirituais tenderemos a assimilá-los com muita facilidade.

Inversamente, comparecendo a uma reunião de cunho religioso, onde se cultua a prece, no empenho de comunhão com a Espiritualidade, ouvindo exortações relacionadas com a virtude e o bem, experimentaremos maravilhosa sensação de paz, como se houvéssemos ingerido milagroso elixir.

Há outro aspecto muito interessante, abordado pelo Espírito François de Genève, no capítulo V, de O Evangelho segundo o Espiritismo:-
- Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? 

É que o vosso Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo que lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele. 

Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia e vos julgais infelizes.

Crede-me, resisti com energia a essas impressões, que vos enfraquecem a vontade. 

São inatas no espírito de todos os homens as aspirações por uma vida melhor; mas, não as busqueis neste mundo e, agora, quando Deus vos envia os Espíritos que lhe pertencem, para vos instruírem acerca da felicidade que Ele vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da libertação, para vos ajudar a romper os liames que vos mantém cativo o Espírito. 

Lembrai-vos de que, durante o vosso degredo na Terra, tendes que desempenhar uma missão de que não suspeitais, quer dedicando-vos à vossa família, quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou. 

Se, no curso desse degredo-provação, exonerando-vos dos vossos encargos, sobre vós desabarem os cuidados, as inquietações e atribulações, sede forte e corajosa para suportá-los. 

Afrontai-os resolutos. 

Duram pouco e vos conduzirão à companhia dos amigos por quem chorais e que, jubilosos por ver-vos de novo entre eles, vos estenderão os braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra.

Podemos concluir, em resumo, que a ciclotimia de nossa personalidade ocorre em função de pressões ambientes, de influências espirituais, do peso do passado e das saudades do Além.

E como superar as variações de humor, mantendo a serenidade e a paz em todas as situações?

É evidente que não o faremos da noite para o dia, como quem opera um prodígio, mesmo porque isso envolve uma profunda mudança em nossa maneira de pensar e agir, o que pede o concurso do tempo.

Considerando, entretanto, que influências boas ou más passam necessariamente pelos condutos de nosso pensamento, podemos começar com o esforço por disciplinarmos nossa mente, não nos permitindo ideias negativas.

O apóstolo Paulo, orientando a comunidade cristã, em relação aos testemunhos necessários, ressalta bem isso, ao proclamar, na Epístola aos Filipenses (4:8):

Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.

Recadinhos ao leitor:-
– Mexa-se. 

Desenvolva atividades. 

Ninguém “cai na fossa”; geralmente entramos nela quando renunciamos a uma vida ativa e empreendedora.

– Policie sua casa mental. 

Estados depressivos começam com insinuantes ideias infelizes.

– Ainda que não se sinta disposto, cultive a convivência com familiares, amigos, colegas de profissão. 

O isolamento contraria a natureza sociável do ser humano, favorecendo a instalação de desajustes íntimos.


Muita Paz!



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