Dar de graça, o que de graça se recebe
“Não nos cumpre julgar o labor dos seres humanos; apenas desejamos
destacar o “quantum” de renúncia e de trabalho que os humildes oferecem
para o bem alheio.
É óbvio que terá mais merecimento perante Deus a
preta velha que, mesmo prejudicada no seu labor doméstico ainda presta
serviços de amor ao próximo, no benzimento ou no “desmancho” gratuito,
que a mulher que só o faz a troco de boa remuneração dos seus
consulentes.
Mas não exagereis demasiadamente esse conceito do “dai de graça”,
quando o aplicais exclusivamente no julgamento alheio, pois que
recebidos “de graça” são todos os dons que recebeis de Deus, visto que
ele é o verdadeiro doador da vida.
Todos vós estais cheios desses dons:-
- os olhos, as mãos, os ouvidos, o paladar, o olfato e o tato são dádivas
que o Pai vos concedeu para o crescimento espiritual.
No entanto, esses
bens sublimes que muitos os transformam em instrumento para prognosticar
a que da moral da irmã desavisada, o fracasso do amigo ou a decadência
do cidadão íntegro.
A língua generosa é usada para a palavra acusadora, fescenina,
blasfema e insultuosa; os ouvidos se aguçam na colheita da maledicência,
da intriga e da notícia exagerada para as fontes de escândalo; as mãos,
criadas para instrumento das bênçãos do trabalho, da carícia e do
serviço ao bem, esbofeteiam, apontam defeitos, produzem o roubo,
constroem canhões, punhais, revólveres e aparelhamento de morte de todo
género!
Os dons do olfato se pervertem na busca dos perfumes voluptuosos
das alcovas do vício, ou das emanações do éter, ou da nicotina
deprimente; o paladar deixa-se desregrar com os alcoólicos das tabernas
ou com os corrosivos elegantes de etiquetas douradas!
Depois do mau emprego desses dons magníficos, que de graça o Pai vos
oferece, cremos que é bem desculpável o ato da preta velha que aceita a
moeda para o leite do filho ou o vestido para a filhinha, oferecendo, em
troca, orações, bênçãos, simpatias, acompanhadas do indefectível
“louvado seja nosso sinhô Zezuis-Cristo”!
A indústria da Fé, que é muito mais preferida pelos doutos do vosso
mundo, aufere vultoso rendimento no mecanismo das rezas e dos louvores,
sem que isso provoque censuras de vossa parte.
A ciência, sob o aparato
impressionante da terminologia clássica, também exerce, por vezes, o seu
mister através do inglório comércio deliberadamente explorador da dor
humana!”
Livro:- “Mensagens do Astral”
Ramatís/Hercílio Maes
Editora do Conhecimento
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