Ajudar e ser Ajudado
Acordei me sentindo totalmente desamparada.
É raro, para mim, acordar assim.
Enquanto
me preparava para mais um dia de trabalho, uma imagem pessoal muito
negativa começou a tomar forma.
Eu me vi como alguém totalmente
despreparada para realizar aquilo a que me propunha.
Uma pessoa cansada,
inútil.
Incapaz de ajudar ninguém.
Experimentei reagir, mudar o padrão.
Não funcionou.
Então, fiz o que sempre faço quando esse tipo de coisa me acontece.
Aceitei
que essas mensagens estavam vindo de algum lugar dentro de mim e, por
isso mesmo, deviam ter uma função.
Deixei que o discurso prosseguisse
até o seu amargo fim.
No
táxi, tendo como trilha sonora as notícias da CBN, compreendi, que se eu
quisesse continuar minha caminhada em direção ao autoconhecimento,
teria que encontrar, dentro de mim, a origem, o foco daquela destrutiva
transmissão.
No elevador, o desgastado esquema de colocar a culpa nos outros, começou a tomar forma.
Pensei que alguma coisa externa precisava mudar.
Talvez mudar de trabalho?
De casa?
De Cidade?
De Estado?
De País?
Antes
de abrir a porta, disse a mim mesma que se continuasse a seguir esta
linha, teria que mudar de Universo.
E, infelizmente, isso não seria
possível, porque o Universo é só um.
Abri a porta e me deparei com as pessoas.
Todas aquelas com quem eu compartilho o meu dia.
Enquanto
cumprimentava cada uma, sem grande entusiasmo, a sensação de que nada
de sólido existia entre eu e elas se tornava mais forte.
Eu tinha
consciência de que este era um sinal claro de que a separatividade
estava ganhando terreno dentro de mim.
Como
um animal que vai para o matadouro, percorri os conhecidos corredores,
cumprindo o costumeiro ritual que o relacionamento profissional impõe.
Sem
perder a noção do vazio interior que estava experimentando - mas
obedecendo ao impulso natural de meu ascendente Áries - mergulhei de
cabeça na rotina habitual:-
- Responder os e-mails recebidos na noite
anterior.
O
texto da primeira mensagem me chocou.
Ali estava alguém que sentia
exatamente a mesma coisa que eu, e que - ainda por cima - me pedia
ajuda.
Logo a mim, que me sentia totalmente vazia naquela manhã?
Engoli em seco.
Lágrimas de impotência me vieram aos olhos.
Pensei em fechar a caixa de mensagens e não responder.
Então,
do fundo de mim mesma, alguma coisa muito tranqüila começou a emergir.
Primeiro com timidez, e depois com crescente segurança, a pequena voz
interior repetia mansamente:-
- Vamos, lá!
Diga a essa pessoa como você se sente.
Seja franca e confesse que não está em condições de ajudar.
As mãos avançaram sobre o teclado, e iniciaram um texto cheio de desculpas e evasivas.
Na
terceira ou quarta linha, porém, alguma coisa me fez parar.
A pessoa
lamurienta, que se recusava a compreender o sofrimento alheio, não era
eu.
Comecei a pensar na sincronicidade da coisa toda.
Percebi que aquela
mensagem havia aparecido diante dos meus olhos na hora certa.
Ali
estava uma pessoa e sua dor.
Seu sentimento de vazio e impotência, sua
falta de fé em si mesma e também na presença divina que residia no
templo de seu coração, eram idênticos ao meus.
Seu
pedido de ajuda era o impulso de que eu tanto precisava para vencer a
sensação de abandono que estava ganhando espaço dentro de mim.
Apaguei
aquelas frases carregadas de desânimo e escrevi a única palavra que eu
queria, com certeza dizer àquela pessoa:-
- Obrigada!
Então,
numa única torrente de palavras, comecei a explicar a ela porque estava
agradecendo.
Foi como abrir as janelas e deixar uma Luz muito mais
potente que o Sol, entrar.
Meus
olhos estavam de novo marejados, mas era de pura, verdadeira alegria.
Um sentimento intenso de gratidão me inundava tão fortemente, e me
ligava a essa pessoa abençoada, que teve a magnífica idéia de vencer o
seu orgulho e me pedir ajuda.
Pensei que eu também poderia ter feito isso, ter pedido ajuda a alguém.
Compreendi que a cada passo do caminho existe muito mais magia do que aquela que nós conseguimos compreender, ou sequer notar.
Falei
sobre isso a essa pessoa desconhecida, no bem que ela havia me feito,
em como o seu pedido de socorro havia agido sobre mim e transmutado a
separatividade em sentimentos de Comunhão, Reconhecimento e Paz.
Antes mesmo que eu terminasse de escrever, a Esperança, a Fé, o Amor Incondicional estavam de volta à minha vida.
No
quarto momentaneamente obscurecido do meu coração, a Luz da Divina Graça
ganhava nova força e resistia, insistindo em brilhar.
Tudo
estava na mais perfeita ordem.
Até mesmo o sentimento de desamparo que
eu havia sentido tinha a sua razão de ser.
Ele havia me ensinado que
quando estamos nos sentindo desamparados, há uma coisa muito simples,
que podemos fazer sem nos envergonhar.
Pedir ajuda.
Abrir o coração.
Compartilhar.
Porque, se somos todos um, não há diferença entre quem pede ajuda e quem se dispõe a ajudar.
Maria Guida
Email: mariaguida@gmail.com
Fonte: CACEF
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