“Si por un instante Dios se olvidara de que soy una marioneta de trapo y
 me regalara un trozo de vida, posiblemente no diría todo lo que pienso,
 pero en definitiva pensaría todo lo que digo.”
 Um texto que 
circula na Internet – uma carta de despedida de Gabriel Garcia Márquez 
aos seus amigos – é falso. 
Aquilo que é conhecido pela expressão inglesa
 hoax. 
No texto, o escritor afirma sofrer de um cancro linfático e 
escreve um poema de despedida aos amigos. 
(Ele nunca escreveu nenhum 
poema, que eu saiba). 
Mas aquilo comoveu milhares de pessoas, que 
inundaram todos os sites e blogues onde foi publicado com profundas 
manifestações de pesar e carinho pelo escritor.
 Quem não achou 
muita graça foi o próprio Garcia Márquez, que leu o poema e comentou:-
- “Mais valia morrer com um câncer linfático do que ter escrito uma carta 
de despedida daquelas”.
 A carta é bonita, mas pouco tem a ver com
 o que já li de Garcia Márquez. 
É demasiado sentimental, um bocado 
piegas, até, demasiado adjetivada. 
Márquez é contido no uso de 
adjetivos. 
Foi durante muitos anos jornalista e isso, acredite-se ou 
não, molda a escrita das pessoas. 
Uma leitura mais apressada – ainda por
 cima em castelhano – pode levar algumas pessoas ao engano.
 O 
engraçado é que esta brincadeira criou raízes– e, mesmo assim, voltou a 
pegar. 
O texto – o título original é La Marioneta – foi escrito em 1999 
e, logo aí, atribuído a Márquez:-
- Estava a morrer e aquela era a sua 
carta de despedida. 
De fato, nesse ano, o escritor dera entrada num 
hospital de Bogotá com sintomas que, a princípio, se supunham ser 
provocados por esgotamento físico mas que, afinal, tinham origem num 
câncer linfático. 
Acontece que o escritor reagiu bem aos tratamentos e 
acabou por sair do hospital em franca recuperação.
 Continua vivo.
 Quem foi, afinal, o autor do texto? 
Segundo o investigador Raúl Trejo 
Delabre, foi escrito por um ventríloquo mexicano chamado Johnny Welch 
como parte de um espetáculo da sua marioneta “El Mofles”. 
Depois foi o 
que se sabe:-
- Alguém terá pensado que uma marionete não era suficiente…
 *    *    *
 Mas, Apesar de Tudo, vale a Pena Ler o Texto 
 "Se, por um instante, Deus se  esquecesse de que sou uma marionete de 
trapo e me presenteasse com um pedaço de vida,possivelmente não diria 
tudo o que penso,mas ,certamente pensaria tudo o que digo. 
 Daria valor às coisas, não pelo o que valem, mas pelo que significam.
 Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. 
 Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. 
 Escutaria quando os outros falassem e gozaria um bom sorvete de chocolate. 
 Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida vestiria simplesmente, me
 jogaria de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, 
como minha alma. 
 Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse. 
 Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre estrelas um poema de Mário 
Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. 
 Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo de suas pétalas. 
 Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida!... 
 Não deixaria passar um só dia sem dizer às gentes- te amo, te amo.
 Convenceria cada mulher e cada homem que são os meus favoritos e viveria enamorado do amor. 
 Aos homens, lhes provaria como estão enganados ao pensar que deixam de 
se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam 
de se  apaixonar. 
 A uma criança,lhe daria asas,mas deixaria que aprendesse a voar sozinha. 
 Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento. 
 Tantas coisas aprendi com vocês, os homens... 
 Aprendi que todo mundo quer viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa. 
 Aprendi que quando um recém-nascido aperta com sua pequena mão pela primeira vez o dedo do pai, o tem prisioneiro para sempre. 
 Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se. 
 São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, finalmente não 
poderão servir muito porque quando me olharem dentro dessa 
maleta, infelizmente estarei morrendo."
Gabriel Garcia Marquez
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