O Caminho do Meio
Eu
sempre acreditei que a perfeição (que é algo que todos acabamos por
buscar) mora no meio-termo.
O equilíbrio é atingido quando alcançamos o
meio.
Andar de bicicleta é assim, sobretudo quando estamos aprendendo:-
- Se a bicicleta se inclina para um lado, jogamos nosso peso para o lado
oposto, e recuperamos nosso eixo.
Com a prática, esse jogo de pesos e
contrapesos se torna automático, mas esse jogo de compensação continua
existindo.
Dessa forma, realizamos um feito quase impossível:-
- Evitar que
a Lei da Gravidade nos derrube ao chão.
A dimensão em que vivemos é regida pela dualidade:-
- Todos os
organismos do planeta são conduzidos por ela.
Todos, sem exceção,
precisam tanto do repouso como da atividade para modularem suas funções
vitais.
Suprimindo um aspecto, cria-se o desequilíbrio.
Salvo os
organismos que usam a divisão celular como forma de reprodução (e mesmo
estes apresentam a dualidade, já que duplicam suas estruturas para a
divisão), todos os outros seres precisam de uma parte feminina e uma
masculina para a perpetuação da espécie.
E mesmo o clima é afetado pela
dualidade, e o excesso de um causa danos ao equilíbrio.
Temos frio e
calor, chuva e seca, alternando-se perpetuamente.
Sendo
a natureza profundamente orquestrada pela dualidade, por que seria
diferente com nossa vida psíquica e energética?
Somos ensinados desde a
infância o que é bom, e o que é ruim.
Aprendemos que altruísmo é uma
virtude, e egoísmo é um defeito.
Mas seria saudável dizermos sim o tempo
todo, doarmos tudo o que temos, negligenciando o próprio bem-estar?
E,
por outro lado, seria tão nocivo olhar de vez em quando para nós mesmos,
para nossas necessidades e desejos?
Seria o amor-próprio uma
característica vergonhosa?
Não estou dizendo que devemos focar em nosso
umbigo o tempo todo.
Estou dizendo que o caminho do meio é o mais
saudável:-
- Equilibrando o dar e o reter.
Aprendemos também que
revidar é feio, e aguentar calado é uma qualidade.
Mas me responda com
sinceridade:-
- Você permitiria que uma pessoa que você ama fosse ferida na
sua frente, e permaneceria quieto e passivo?
Não?
Mas se você faria
isso por alguém que você ama, por que deixaria de fazer isso por você
mesmo?
Não estou fazendo uma apologia à agressão, mas dizendo que você
não só pode como deve preservar seu espaço, e dizer não à todas as
formas de abuso e desrespeito, seja com os outros ou com você mesmo.
Lembre-se:-
- Caminho do meio.
Não ataque de forma gratuita, mas defenda-se
sempre que necessário.
Se te incomoda tomar uma atitude em prol da
própria integridade, pense que você estará atuando para trazer
equilíbrio ao mundo, já que pessoas se tornam tiranas pela falta de
alguém que imponha limites, que diga não.
Sempre nos disseram que a
raiva é nociva, e expressar raiva é uma fraqueza.
Mas a raiva, se bem
direcionada, se torna um combustível.
Pense da seguinte maneira:-
- Você
está sendo tratado de forma injusta, por exemplo, no seu trabalho.
Você
tem três alternativas:-
- Lutar contra, sair dessa situação (trocando de
emprego), ou
- Suportar (leia-se empurrar com a barriga).
Caso você
escolha a última alternativa, terá que fazer um esforço imenso para se
tornar imune.
E se não conseguir, correrá um sério risco de ficar
doente.
Mas caso escolha uma das duas primeiras, você estará
direcionando sua raiva e sua frustração de forma a solucionar sua
situação, tirando desses sentimentos a força necessária para dar esse
passo.
Veja bem, não estou dizendo nem que você deve sair descarregando
sua raiva, e nem dizendo que fugir de uma situação ou tentar modificá-la
é sempre a melhor alternativa.
Muitas vezes passamos por situações que
se repetem, cuja função é nos ensinar algo que ainda não aprendemos, e
enquanto não aprendermos, essas situações continuarão acontecendo.
Mas
existem situações que causam sofrimento e incômodo, e servem para nos
tirar de nossa zona de conforto, levando-nos a abraçar novos horizontes,
ou ainda para nos ajudar a desenvolver características até então
latentes.
Discernir se é o caso de lutar, ou se é necessário ficar e
aprender, exige grande sabedoria.
Mas eu tenho um palpite que a resposta
estará em achar o ponto de equilíbrio.
Eu acredito firmemente que os
padecimentos psíquicos surgem no momento em que o equilíbrio cessa.
Porém, achar o caminho do meio não é tarefa fácil, nem se consegue isso
de forma direta.
Observe o movimento de um pêndulo.
Se você puxá-lo para
um lado, e soltar, ele não irá parar quando chegar no meio.
Irá até o
lado oposto.
Quando ele atingir a altura máxima do outro lado, ele
novamente passará pelo meio, e retornará para o lado de onde partiu.
Só
que ele não atingirá a mesma altura de antes.
E ele irá ir e voltar,
sucessivamente, perdendo altura gradativamente, até que chegará ao meio,
e seu movimento cessará.
Uma balança também faz esse
movimento de vai e vem antes de atingir sua estabilidade.
Ao colocar os
pesos dos dois lados, ambos os pratos irão subir e descer.
Muitas vezes
serão necessários ajustes, retirando e colocando pesos para achar o
ponto de equilíbrio.
Portanto, tenha paciência, consigo mesmo e com os
outros.
Erramos por excesso e por falta.
Mas é assim mesmo, somos
pêndulos e balanças.
E um dia chegaremos ao meio.
Fonte: Caminhos da Alma
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