Ponte para a Sanidade
A faculdade mediúnica é indício de algum estado patológico ou simplesmente anormal?
– Às vezes anormal, mas não patológico.
Há médiuns de saúde vigorosa.
Os doentes o são por outros motivos.
O Livro dos Espíritos. Allan Kardec. São Paulo: Lake, 2007, p. 184
Na Antiguidade, a cura das doenças era assunto dos sacerdotes e, portanto, da religião.
Os médicos do clero tratavam os doentes por meio de rituais e cantos mágicos em santuários enormes.
A enfermidade era considerada como a cólera de Deus, e os religiosos atuavam como intermediários ou “pontes” entre a Divindade e os homens.
Operavam como “pontífices”, ou seja, “construtores de pontes” (do latim “pontifex”, palavra para designar sacerdote).
Há muito tempo a tradição católica presta homenagem ao Papa, conferindo-lhe o título de Sumo Pontífice.
No passado, as enfermidades eram vinculadas à culpa, isto é, aos pecados.
O arrependimento dos erros estava intimamente ligado à cura do doente; a penitência reconciliava a criatura novamente com Deus.
Como os médiuns, na atualidade, são denominados “intermediários” ou “pontes” entre o mundo físico e o espiritual, e a mediunidade é vista, muitas vezes e de forma confusa, como “dádiva sagrada” ou “corretivo divino”, isso pode levar as criaturas a tirar conclusões equivocadas.
Todos nós somos herdeiros de inúmeras experiências do pretérito.
Encontram-se impressos em nossos painéis do inconsciente profundo ideias e conceitos incorretos, remanescentes do passado distante, depositados desde tempos imemoriais em nosso arcabouço psicológico.
É preciso renovarmos essas concepções inadequadas sobre a Espiritualidade, para melhor entendermos os mecanismos da Vida Providencial.
Em muitas circunstâncias, interpretamos novos conhecimentos sem dissociar nossos velhos conceitos.
A capacidade mediúnica é considerada uma percepção inerente à estrutura psíquica das criaturas; por isso é que a encontramos nos mais diferentes níveis de consciência da humanidade.
Ela não é moral, mas sim amoral.
É simplesmente uma das funções psicofisiológicas do ser humano.
Em virtude disso, podemos enquadrá-la como um dos sentidos de que a alma se utiliza a fim de manifestar-se e desenvolver-se, gradativamente, para a plenitude da vida.
A faculdade medianímica não gera doenças.
Ela não pode ser responsabilizada pelo estado patológico das criaturas; é, antes de tudo, uma excelente ferramenta para ajudá-las a despertar espiritualmente e a compreender a si mesmas, os outros seres e o Universo.
Quando exercitada, porém, de modo impróprio pode trazer riscos às pessoas psicologicamente frágeis ou vulneráveis.
O fenômeno psíquico em si não produz a insanidade.
No entanto, toda e qualquer faculdade, quando exercida de forma exaustiva e prolongada, pode conduzir à fadiga ou à enfermidade.
Uma pessoa tem em alto grau o dom de cantar e o utiliza, ou para glorificar as belezas da Terra, ou para exaltar canções obscenas.
Mas, neste caso, sua voz não pode ser julgada imoral.
Os olhos, além de transmitir nossos sentimentos e intenções, também colhem as impressões e a disposição dos outros.
Eles tanto expressam emoções puras e sadias, que nascem do coração, como também inveja e revolta, que exalam um brilho estranho de hipocrisia.
Contudo, a visão não pode ser acusada de agente de falsidade ou desequilíbrio.
As mãos, quando empregadas na canalização da energia nuclear, podem iluminar e aquecer os lares; assim como podem explodi-los, se utilizadas indevidamente.
O sexo é um dos departamentos mais sublimes da natureza humana.
Cria, através das emoções sexuais, as energias necessárias para a manutenção dos afetos e a materialização das formas.
Há, porém, quem o utilize para a satisfação das sensações mais grosseiras e torpes.
Isso, contudo, não lhe tira o mérito sublime para o qual foi criado.
É sempre a criatura que, servindo-se de seus sentidos, dá à sua existência um destino construtivo ou destrutivo.
Nós é quem decidimos que fim vamos dar aos nossos recursos e possibilidades.
Todavia, não podemos nos esquecer de que somos livres para escolher nossos atos e atitudes, mas prisioneiros de suas consequências.
Precisamos aprender a usar a mediunidade, assim como usamos normalmente as nossas capacidades humanas – a percepção, a atenção, o bom senso, a memória, o critério lógico, a linguagem, enfim todas as atividades do nosso reino interior.
Por sua vez, não é recomendável utilizar as faculdades psíquicas para explorar “outros mundos”, até que tenhamos o pleno controle do mundo em que estamos vivendo aqui e agora.
Desenvolver nosso “sexto sentido” não é um meio de resolver problemas comportamentais cuja solução está ao nosso alcance; de buscar auxílios imediatistas, de tirar proveitos pessoais, de conseguir respostas paliativas para problemas reais.
Quando começamos a vivenciar experiências extrassensoriais, é a hora urgente de intensificarmos a análise distintiva da realidade e da ilusão.
Em muitas ocasiões, habilidades transcendentais quando mal elaboradas podem nos levar a ser “servos apaixonados”, mas “discípulos distraídos”.
A compreensão da faculdade mediúnica torna-se confusa e difícil para nós na medida em que também vemos os traços característicos de certas doenças mentais.
Pois os sinais precursores da mediunidade podem eclodir e ser confundidos com os sintomas das deficiências fisiopsíquicas.
Em razão disso, nem sempre se pode compreender com facilidade, ou ver com clareza, a distinção entre as manifestações mediúnicas, em seu início, e os estados doentios.
Mediunidade é um produto do processo de desenvolvimento da natureza humana.
Médiuns não são “agraciados”, nem “enfermos”.
São uma verdadeira “ponte para a sanidade”.
Podem, sim, se tornar verdadeiros pontífices (“construtores de pontes”) em busca da saúde integral – estado de consciência em harmonia plena com as leis naturais do Universo.
Podem, sim, se tornar verdadeiros pontífices (“construtores de pontes”) em busca da saúde integral – estado de consciência em harmonia plena com as leis naturais do Universo.
Religando a si mesmos com a Fonte Divina, eles são capazes de preparar caminhos para que se estabeleça a cura real para a humanidade.
Diante dessas nossas considerações, finalizamos com a resposta dos Espíritos Superiores quando afirmam a Allan Kardec que o fenômeno mediúnico pode ser considerado “às vezes anormal, mas não patológico; há médiuns de saúde vigorosa; os doentes o são por outros motivos”.
Extraído de A imensidão dos sentidos – um estudo psicológico da sensibilidade humana.
Espírito Hammed
Francisco do Espírito Santo Neto
Catanduva, SP
Boa Nova, 2000, p. 119
Espírito Hammed
Francisco do Espírito Santo Neto
Catanduva, SP
Boa Nova, 2000, p. 119
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