segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Perda de Afetos


Perda de Afetos

Quando a morte arrebata do convívio um ser amado, algumas pessoas perdem a vontade de viver.

De uma forma até egoísta, esquecem os que convivem no mesmo lar e se enclausuram na própria dor.


Não se dão conta que, agindo assim, maltratam os corações que os amam e que, exatamente como eles, sofrem a ausência daquele que partiu para a Pátria verdadeira.


Assim aconteceu com Hamilton, um trabalhador dos Correios. 

Ele era muito feliz. 

Pai dedicado, costumava chegar em casa e ler histórias para seus filhos.

À noite, antes de adormecerem, beijava-os e com eles orava, rogando a proteção dos seres imortais.


Um dia, a morte veio e ceifou a vida do seu menino de sete anos. 

A partir desse dia, ele começou a realizar com desleixo o seu trabalho, não mais sorriu, não contou mais histórias. 

Tornou-se triste e cabisbaixo. 

O ambiente no lar foi ficando sempre mais difícil.

Certo dia, separando a correspondência para entrega, descobriu uma carta sem envelope. 

O destinatário era Jesus. 

O endereço:-
- Céu.
Curioso, abriu e leu:-

- Querido Jesus
, resolvi Lhe escrever para pedir uma coisa muito especial. 

Aqui em casa todos estamos muito tristes:-
- Papai, mamãe e eu.

O meu irmãozinho Felipe morreu há alguns meses. 

Quando ele estava conosco, adorava brincar com seu trem, sua bola e seu caminhãozinho.

Pois é Jesus, eu queria que o Senhor levasse todos esses brinquedos para ele no Céu. 

Tenho certeza de que ele vai querer continuar a brincar com eles.

Acredito que ele sinta falta, principalmente do trem, com que mais brincava.


Outro pedido é que o Senhor traga meu pai de volta. 

Não que ele tenha ido embora, mas é como se tivesse ido.

É que desde a morte de Felipe, ele não sorri, não conta histórias, nem ora mais comigo.


Eu gostaria muito que meu pai me tomasse nos braços e contasse histórias, como fazia antes.


Eu queria ver meu pai sorrir de novo. 

É tão bonito o sorriso do meu pai!

Eu queria que, de novo, ele viesse me dizer boa noite, orasse comigo e esperasse eu adormecer.


Era tão bom, Jesus.


Eu ouvi meu pai dizer para minha mãe que só a Eternidade poderia curá-lo.


Será que o Senhor poderia trazer um pouquinho disso para ele melhorar? 

Se for possível, eu ficarei muito feliz.

Assinado:- Rita.


O trabalhador dos Correios sentiu os olhos marejarem de lágrimas. 

Deu-se conta de como, em sua dor, fora egoísta. 

Esquecera esposa e filha, que também sofriam.

Naquele dia, voltou para casa diferente. 

Ao chegar, chamou a filha, tomou-a nos braços, estreitou-a ao peito demoradamente, beijou-a e lhe perguntou:-
- Quer ouvir uma história?

Quando a dor da separação pela morte nos ferir o coração, não nos recolhamos em concha, desistindo da vida.


A dor deve nos motivar à continuidade da luta diária, principalmente porque guardamos a lição da Imortalidade. 

Os que partiram estão mais próximos de nós do que possamos imaginar. 

E não nos esqueçamos dos que partilham conosco da mesma dor e de idêntica saudade.

Em nome do amor, não nos tornemos egoístas. 

Não nos isolemos, nem firamos ainda mais os que, ao nosso lado, aguardam pela migalha do nosso carinho, o sorriso da nossa ternura, nutrindo-se do nosso afeto.

Redação do Momento Espírita
  Livro:- Remotos cânticos de Belém
 Wallace Leal Rodrigues, ed. O Clarim.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 2, ed. Fep.
Em 31.01.2010.

PERDA DE AFETOS 

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