Sorrateiramente se instala na casa mental, entorpecendo a vontade.
Disfarça-se de cansaço, sugerindo repouso.
Justifica-se como necessidade de refazimento de forças, exigindo, cada vez, maior soma de horas.
Apresenta-se como enfermidade, impondo abandono das tarefas.
Desculpa-se, em nome da exaustão das energias, que deseja recobrar.
Reage contra qualquer proposição de atividade que implique no inconveniente esforço.
A ociosidade é cruel inimigo da criatura humana e fator dissolvente que se insinua nas tarefas do bem, nas comunidades que laboram pelo progresso.
Após vencer aquele de quem se apossa, espalha o seu ar mefítico, contaminando quantos se acercam da sua vítima, que se transforma em elemento pernicioso, refugiando-se em mecanismos de evasão de responsabilidade sob a condição de abandonado pela fraternidade alheia.
O ocioso faz-se ególatra, termina impiedoso.
Solicita direitos, sem cumprir com os deveres que lhe dizem respeito.
Parasito social, é hábil na dissimulação dos propósitos infelizes que agasalha.
Dispõe de tempo para censurar os que trabalhem e observa, nos outros refletidas, as imperfeições que de si transfere.
Sua palavra enreda os incautos, torpedeando os programas que exigem ação.
Quando se demora anestesiado, mentalmente, pelos vapores tóxicos que emite e absorve, consegue exibir falsa compostura, atribuindo-se superioridade que está longe de possuir, no ambiente onde se encontra.
Escolhe serviços e especifica tarefas, que jamais cumpre integralmente, acusando os outros ou escusando-se por impedimentos que urde com habilidade.
É adorno de aparência agradável, que sugere valor ainda não conseguido.
Bom palestrante, conselheiral, cômodo, refugia-se na gentileza para atrair simpatias, desde que lhe não seja exigido esforço.
Sabe usar os recursos alheios e estimula as tendências negativas, insuflando, com referências encomiásticas, o orgulho, a vaidade, a insensatez.
Na enfermidade de que padece, não se dá conta da inutilidade que o caracteriza.
Teresa D’Avila, atormentada por problemas artríticos e outros, na sua saúde delicada, exauria-se, silenciosa, nas tarefas mais cansativas do Monastério, embora portadora de excelente dons espirituais.
Bernadette Soubirous, a célebre vidente de Lourdes, afadigava-se, enferma, nos trabalhos mais vigorosos, até a total impossibilidade de movimentos.
Allan Kardec, advertido pelo seu médico, Dr. Deméure, então desencarnado, para que poupasse as energias, prosseguiu ativo até o momento da súbita desencarnação.
… E Jesus, que jamais se escusou ao trabalho, são lições que não podem nem ser ignoradas.
Se não gostas ou não queres trabalhar, sempre encontrarás justificativas para dissimular a ociosidade.
O progresso de que necessitas, porém, não te desculpará o tempo perdido ou mal-empregado.
Volverás à liça, em condição menos afortunada, sendo-te indispensável o esforço para a sobrevivência.
Os membros, que se não movimentam na atividade edificante, atrofiam-se, perdem a finalidade, e apenas se recuperarão sob injunções mui dolorosas.
Oxalá te resguardes da ociosidade.
Melhor a exaustão decorrente do bem, vivenciado a cada instante, do que a agradável aparência, cuidada e rósea, mediante a exploração do esforço alheio e a nutrição da inutilidade ociosa.
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