quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Ociosidade





    

Sorrateiramente se instala na casa mental, entorpecendo a vontade.

Disfarça-se de cansaço, sugerindo repouso.

Justifica-se como necessidade de refazimento de forças, exigindo, cada vez, maior soma de horas.

Apresenta-se como enfermidade, impondo abandono das tarefas.

Desculpa-se, em nome da exaustão das energias, que deseja recobrar.

Reage contra qualquer proposição de atividade que implique no inconveniente esforço.

A ociosidade é cruel inimigo da criatura humana e fator dissolvente que se insinua nas tarefas do bem, nas comunidades que laboram pelo progresso.

Após vencer aquele de quem se  apossa, espalha o seu ar mefítico, contaminando quantos se acercam da sua vítima,  que se  transforma em elemento pernicioso, refugiando-se em mecanismos de evasão de responsabilidade sob a condição de abandonado pela fraternidade alheia.

O ocioso faz-se ególatra, termina impiedoso.

Solicita direitos, sem cumprir com os deveres que lhe dizem respeito.

Parasito social, é hábil na dissimulação dos propósitos infelizes que agasalha.

Dispõe de tempo para censurar os que trabalhem e observa, nos outros refletidas, as imperfeições que de si transfere.

Sua palavra enreda os incautos, torpedeando os programas que exigem ação.

Quando se demora anestesiado, mentalmente, pelos vapores tóxicos que emite e absorve, consegue exibir falsa compostura, atribuindo-se superioridade que está longe de possuir, no ambiente onde se encontra.

Escolhe serviços e especifica tarefas, que jamais cumpre integralmente, acusando os outros ou escusando-se por impedimentos que urde com habilidade.

É adorno de aparência agradável, que sugere valor ainda não conseguido.

Bom palestrante, conselheiral, cômodo, refugia-se na gentileza para atrair simpatias, desde que lhe não seja exigido esforço.

Sabe usar os recursos alheios e estimula as tendências negativas, insuflando, com referências encomiásticas, o orgulho, a vaidade, a insensatez.

Na enfermidade de que padece, não se dá conta da inutilidade que o caracteriza.

Teresa D’Avila, atormentada por problemas artríticos e outros, na sua saúde delicada, exauria-se, silenciosa, nas tarefas mais cansativas do Monastério, embora portadora de excelente dons espirituais.

Bernadette Soubirous, a célebre vidente de Lourdes, afadigava-se, enferma, nos trabalhos mais vigorosos, até a total impossibilidade de movimentos.

Allan Kardec, advertido pelo seu médico, Dr. Deméure, então desencarnado, para que poupasse as energias, prosseguiu ativo até o momento da súbita desencarnação.

… E Jesus, que jamais se escusou ao trabalho, são lições que não podem nem ser ignoradas.

Se não gostas ou não queres trabalhar, sempre encontrarás justificativas para dissimular a ociosidade.

O progresso de que necessitas, porém, não te desculpará o tempo perdido ou mal-empregado.

Volverás à liça, em condição menos afortunada, sendo-te indispensável o esforço para a sobrevivência.

Os membros, que se não movimentam na atividade edificante, atrofiam-se, perdem a finalidade, e apenas se recuperarão sob injunções mui dolorosas.
Oxalá te resguardes da ociosidade.

Melhor a exaustão decorrente do bem, vivenciado a cada instante, do que a agradável aparência, cuidada e rósea, mediante a exploração do esforço alheio e a nutrição da inutilidade ociosa.




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