No dia da Pátria
O Brasil celebra hoje (7 de setembro) o seu Dia da Pátria.
As bandeiras ouro e verde serão desfraldadas aos quatro ventos.
Nas grandes cidades, serão ouvidos os ecos dos clarins, nas paradas militares, e uma vibração de entusiasmo percorrerá o coração dos patriotas.
Sei também que muitas personalidades
desencarnadas, que antigamente pelejaram pela organização da
nacionalidade, hoje se voltam para São Sebastião do Rio de Janeiro, onde
pretendem participar das cerimônias comemorativas; muitos dos chefes
Tapuias e Tupis, legítimos donos da terra conquistada pelos portugueses,
ainda no espaço, não desdenharão igualmente de passear os olhos pelo
cenário das suas passadas existências, recordando hoje as suas tabas
solitárias, os seus costumes, que os brancos perverteram, a imensidade
das selvas e as belezas melancólicas das suas praias desertas.
Todavia, lembrando Paicolás,
reconhecerão alguns benefícios de sua influência, ao lado de seus
inumeráveis defeitos.
Hão de contemplar, enlevados, a Avenida Central, a
Avenida Atlântica, a praia de Copacabana, o Russel, o Leblon, as obras
de saneamento e o casario imenso da Cidade Maravilhosa,
derramando-se pelos vales, pelas serras e planícies, numa alucinação de
progresso vertiginoso.
Os homens e os Espíritos desencarnados se reunirão, celebrando a data festiva.
Essas solenidades são sempre lindas e alegres, quando encaradas dentro da sua formosa significação.
As pátrias devem ser as casas imensas
das famílias enormes.
Unidas fraternalmente, realizariam o sonho da
Canaã das Escrituras, na face da Terra.
Contudo, quanto mais avançou a
civilização nas suas estradas, mais o conceito de pátria foi viciado na
essência da sua legítima expressão.
O progresso científico eliminou quase
todos os problemas da incomunicabilidade.
A radiotelefonia fez do
planeta uma sala minúscula, em que os países conversam, como as pessoas.
Os paquetes para as viagens transoceânicas são cidades flutuantes, como
hifens gigantescos, unindo os povos.
As máquinas aéreas, aperfeiçoadas e
admiravelmente dispostas, sulcam os ares, devorando as distâncias.
Por
toda parte, rasgam-se estradas.
Há uma ânsia de comunhão em todas as
coisas.
Tudo tende a unir-se, aproximando-se.
Entretanto, nunca as pátrias estiveram
tão afastadas umas das outras, como agora.
Jamais se fez uma apologia
tão grande da política de isolamento.
As pátrias andam esquecidas de que
a existência depende de trocas incessantes.
Os são infligidos às
nações, no seu egoísmo coletivo.
Deslumbrada, num período esplendoroso de
sua evolução, e sentindo-se no limiar de transformações radicais em
todos os setores de sua atividade, a sociedade humana escuta a voz dos
seus gênios e dos seus apóstolos, desejando eliminar as fronteiras de
todos os matizes que separam os seus membros, fundindo-se nesse abraço
de unidade que ela começa a compreender.
A política, porém, representa o
passado multimilenário.
Os governos se concentram à base da força e o
antagonismo que impera entre todos os elementos da atualidade apresenta
um espetáculo interessantíssimo.
Todos os pactos de paz são maiores
desequilíbrios financeiros e econômicos mentirosos.
Haverá maior
contradição que a de um instituto de paz, que deve ser pura e
espontânea, guardado por exércitos armados até os dentes?
Em todos os sistemas políticos dos
tempos modernos, predominam apenas os pruridos da hegemonia
internacional.
Em virtude de semelhantes disparates, a guerra é
inevitável.
Não haverá confabulações diplomáticas que a eliminem, por
enquanto, do caminho dos homens.
E a guerra de agora será mais dolorosa e
terrível.
Todas as conquistas da Ciência serão mobilizadas a seu
serviço.
A Bacteriologia, a Eletricidade, a Mecânica, a Química, todos
os elementos serão requeridos pelo polvo insaciável.
Deus criou a paz, o amor, a
fraternidade, mas os homens criaram os seus próprios destinos.
Confundidos no labirinto de suas maldades, só têm podido iluminar os
caminhos vida como fachos incendiados da morte.
Na atualidade, a guerra das pátrias
representa a guerra dos sentimentos; porque uma era nova, de
fraternidade cristã, desabrochará nos horizontes do mundo.
Todos os
Espíritos falam nessa renovação e ela aparecerá, clareando o dia novo da
Humanidade.
Nessa época de ouro espiritual, que
talvez não venha longe, o mundo entenderá a mensagem de paz do Divino
Cordeiro.
Uma brisa suave de conforto e de alívio descerá do Céu sobre
as frontes atormentadas das criaturas.
Terminará o dilúvio de expiações
em que o homem há séculos está envolvido, e um pássaro simbólico trará
novamente a oliva da esperança.
E o Brasil, ainda que com sacrifícios
ingentes, vem colaborando na disseminação da mensagem da imortalidade e
da esperança, nessa era nova entoará, com as nações irmanadas, o hino da
paz, compreendendo, pela evolução moral dos seus filhos, a beleza
maravilhosa da Pátria universal.
Fonte: XAVIER, Francisco C. Crônicas de além-túmulo.
Pelo Espírito
Humberto de Campos. 17. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014.
(Mensagem
recebida no dia 7/9/1935.)
Humberto de Campos
Chico Xavier
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