Pertenço
(desde menina o sei) à essa raça, a raça dos desassossegados, aqueles
que estão sempre inquietos, exigentes conosco mesmo, que amam com
atropelos, amam os sonhos e as fantasias, não se aquietam por nada e so
sossegam quando se reconhecem.
Creio que somos uma raça abençoada.
Vejam só:-
A RAÇA DOS DESASSOSSEGADOS
Martha Medeiros
“À raça dos desassossegados pertencemos todos, negros e brancos, ricos e
pobres, jovens e velhos, desde que tenhamos como característica desta
raça comum, a inquietação que nos torna insuportavelmente exigentes com a
gente mesmo e a ambição de vencer não os jogos, mas o tempo, este
adversário implacável.
Desassossegados do mundo correm atrás da
felicidade possível, e uma vez alcançado seu quinhão, não sossegam:-
- Saem
atrás da felicidade improvável, aquela que se promete constante, aquela
que ninguém nunca viu, e por isso sua raridade.
Desassossegados
amam com atropelo, cultivam fantasias irreais de amores sublimes, fartos
e eternos, são sabidamente apressados, cheios de ânsias e desejos, amam
muito mais do que necessitam e recebem menos amor do que planejavam.
Desassossegados pensam acordados e dormindo, pensam falando e
escutando, pensam ao concordar e, quando discordam, pensam que pensam
melhor, e pensam com clareza uns dias e com a mente turva em outros, e
pensam tanto que pensam que descansam.
(..) Desassossegados têm
insônia e são gentis, lhes incomodam as verdades imutáveis, riem quando
bebem, não enjoam, mas ficam tontos com tanta idéia solta, com tamanha
esquizofrenia, não se acomodam em rede, leito, lamentam a falta que faz
uma paz inconsciente.
Desta raça somos todos, eu sou, só sossego quando
me aceito.”
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