Reflexão urgente para estes dias de casamentos instáveis e fluidos ...
Do Livro:- "Nossos Filhos São Espíritos"
cap. 21
Hermínio Correa de Miranda
"Para a menina que chorava na
calçada, eles continuavam sendo papai e mamãe, só que, agora,
separados.
Mal começara a vida para ela e já as coisas mudavam de maneira brutal, no seu pequeno universo pessoal..."
Mal começara a vida para ela e já as coisas mudavam de maneira brutal, no seu pequeno universo pessoal..."
Hermínio de Miranda conta a história da menina que chorava na calçada.
Uma reflexão urgente para estes dias de casamentos instáveis e fluidos...
Homens e mulheres, casados e solteiros, papais e mamães... vamos refletir?
A MENINA QUE CHORAVA NA CALÇADA
Hermínio Correa de Miranda
(Ou Hermínio C. Miranda)
NUMA DESSAS MANHÃS
ensolaradas de domingo, saímos para a habitual caminhada pelas ruas mais
tranqüilas do bairro em que moramos.
Logo ali em baixo, a uma quadra de
distância, chorava uma menina na calçada.
Não tinha mais que três ou
quatro anos, era bonita e estava bem vestidinha, como se acabasse de se
aprontar para um passeio.
A poucos passos dela um jovem senhor
contemplava-a, amargurado.
Não era um choro escandaloso, birrento e
malcriado, o dela, mas pranto sofrido, vindo de um sofrimento maior e
mais profundo que se mostrava no seu olhar angustiado.
A dor da querida e
desconhecida irmãzinha doeu em mim também.
Antes que desse conta do que
fazia, aproximei-me dela e coloquei minha ternura de avô em algumas
palavras de solidariedade e consolo.
Por que razão estaria chorando
aquele ser que apenas reiniciava suas experimentações com a vida?
Não
quis ser indiscreto, nem invasivo, dado que todos nós temos direito à
privacidade, mas o jovem fez, voluntariamente, um comentário sucinto:-
- A
menina queria que a mãe também fosse com ela.
Não me caberia perguntar
mais nada e nem precisava.
Desenhou-se logo todo o quadro.
Papai e mamãe estavam,
certamente, separados.
A justiça decidira que papai ficaria autorizado a
vir buscá-la aos domingos para passar o dia com ele.
Teria ele outra
companheira?
Ou mamãe estaria de marido
novo?
Não sei.
Para a menina que chorava na calçada, eles continuavam
sendo papai e mamãe, só que, agora, separados.
Falavam pouco ou nunca,
um com o outro, mal se olhavam, pareciam inimigos.
Mal começara a vida
para ela e já as coisas mudavam de maneira brutal, no seu pequeno
universo pessoal.
De repente, ficaram confusas e incompreensíveis.
Por exemplo:-
- Por que razão mamãe não podia ir com ela passar o dia com papai?
- Por que razão mamãe não podia ir com ela passar o dia com papai?
Às vezes bem que a gente
gostaria de fazer umas mágicas, como naquelas antigas histórias de
fadas.
Como a de reunir aquele triângulo, mãe, pai e filha.
Mas isto
importava desfazer outro triângulo, mamãe, papai e a ‘outra’, ou, quem
sabe, papai, mamãe e o ‘outro’.
Ou, então, pegar aquela criança ao colo e
levá-la para uma terra onde ninguém se separasse de ninguém.
Mas isso
eu não podia fazer e ainda que pudesse, não o faria, sem interferir no
livre-arbítrio de cada uma das pessoas envolvidas.
Tratava-se de um
drama pessoal com várias pontas espinhentas que machucavam a todos,
especialmente a sofrida menina que queria levar consigo a mãe naquele
passeio de domingo de sol.
Só me restava seguir meu
caminho e vê-los seguirem o deles.
Seja como for, levei comigo um pouco
daquela dor e deixei com a criança confusa uma vibração de ternura.
Levei mais que isso, um tema para meditar.
Vindo de casamentos
duradouros, minhas matrizes de avaliação de certas situações da vida
encontram-se — reconheço-o honestamente —, talvez desatualizadas e
inservíveis para muita gente.
Mãe e pai, sogra e sogro só se separam
pela morte.
Ao escrever estas linhas, minha própria união já passou pelo
marco número 50.
Não posso, obviamente, responder pelos nossos
antepassados; quanto a nós, contudo, sim, houve problemas de
relacionamento ao longo do percurso.
Quem não os tem?
Ademais, estamos
aqui precisamente para esmerilhar arestas, corrigir desafeições, ampliar
afetos, cultivar entendimentos, pacificar antigos rancores, testemunhar
dedicações e devotamentos.
Se no primeiro ou no segundo embate, ou no
centésimo, damos o processo de ajuste por encerrado, estaremos apenas
adiando para não sei quando e onde e como, a oportunidade da Paz.
É que
as Harmonias da Paz a gente não consegue comprar na farmácia, ou no
supermercado — é trabalho lento e difícil para uma vida e até mais.
Exige Compreensão, Tolerância e Renúncia.
O lar é um ponto de encontro, o
momento cósmico é aquele, as condições estão ali criadas para que tudo
dê certo e, se cada um tiver que tomar diferentes rumos após o trabalho
da conciliação, partirão todos como amigos que apenas se despedem por
algum tempo, com encontros marcados no futuro, para dar prosseguimento
aos projetos em comum, e, portanto, para novas etapas evolutivas, dado
que somos todos companheiros de viagem.
Não adianta a gente abandonar de
repente a tarefa do entendimento ou da convivência para seguir sozinho,
mesmo que se esteja em condições de fazê-lo.
Vai faltar alguma coisa no
futuro.
Alguma coisa que a gente deixou de fazer quando tinha tudo para
concretizá-la.
Uma entidade espiritual
contou-nos, a respeito disso, uma historinha ilustrativa.
Ela —uma
mulher, vinha caminhando com um companheiro de jornada evolutiva.
Acerta
altura, precisavam dar um passo decisivo.
Figurativamente, pararam
ambos a uns poucos passos de um portal que prenunciava nova etapa de
realizações e progresso, dado que percebiam luzes brilhando lá adiante.
Houve um momento de
confabulação, pois ele relutava em seguir adiante.
Acabaram
separando-se.
Ele ficou e ela foi em frente.
Sofria, agora, por não ter
insistido um pouco mais ou, quem sabe, ter permanecido com ele por mais
algum tempo, até que ele se decidisse a acompanhá-la.
Não o fez e,
daquele momento em diante, cada um seguiu sua própria rota.
Ela nos
contava agora, em pranto, o desacerto da decisão.
Perderam-se de vista
por muito tempo.
Ela caminhou um bom trecho pelos Caminhos da Luz, mas
ele demorou-se pelos seus próprios espaços, provavelmente, porque não
estavam mais juntos para negociar com a vida a estratégia da Paz.
— É como se você tivesse, lá
no futuro — contou ela —, um valioso tesouro guardado num cofre à sua
espera.
Você chega primeiro, mas o cofre só poderá ser aberto com duas
chaves e você tem apenas a sua; a outra está com a pessoa que ficou para
trás.
Ou você a espera ou tem que ir buscá-la, para terem, juntos,
acesso ao tesouro.
A história daquela irmã ficou
em mim como uma parábola.
Será que não estamos sendo impacientes demais
com os companheiros de viagem?
Será que um pouquinho mais de Tolerância
e Compreensão não teriam evitado os desacertos?
A Família é a nossa
universidade.
Ou saímos dela diplomados, com mestrado ou PhD concluídos,
prontos para as conquistas pessoais, ou dela nos retiramos
precipitadamente interrompendo o curso das Esperanças.
Tanto quanto pude
apurar, na pesquisa feita para escrever a parte que me coube no Livro
de Deolindo Amorim, ainda não se chegou, após vários milênios de
experimentação, a um modelo melhor de célula social do que a família.
E
posso garantir que não faltou experimentação.
Tentou-se de tudo,
numerosas fórmulas e processos foram testados, mas o modelo antigo
resistiu.
Se agora as coisas não estão dando certo, acham os entendidos
que a falha não é do modelo, mas das pessoas.
Como não sou especialista do
ramo, prefiro não entrar na discussão, o que não significa, de modo
algum, que deixe de ter minha opinião a respeito.
Tenho-a e muito
nítida.
Acho que se jogou fora a fórmula antes de ter uma que a
substituísse com vantagens, se é que um dia a teremos.
Penso mais ainda:-
- Que a falência do sistema começou a partir do momento em que se separou
sexo para um lado e amor para outro.
Vejo nessa dicotomia “amor sexo” a
projeção, no plano em que vivemos, de outra dicotomia mais ampla, ou
seja, matéria e espírito, na qual o amor é atributo da entidade
espiritual e o sexo instrumentação meramente biológica, a fim de
assegurar a todos renovadas oportunidades de reencarnação.
Juntos, realizam a tarefa da continuidade da vida na carne, ao passo que a separação deles cria turbulências imprevisíveis, porque, desligado do componente espiritual do ser o sexo recorre ao artifício da paixão, que, em vez de chama que ilumina e aquece, é labareda que consome e logo se extingue, em sombras.
Juntos, realizam a tarefa da continuidade da vida na carne, ao passo que a separação deles cria turbulências imprevisíveis, porque, desligado do componente espiritual do ser o sexo recorre ao artifício da paixão, que, em vez de chama que ilumina e aquece, é labareda que consome e logo se extingue, em sombras.
Enquanto nossas paixões vão e
vêm, ofuscam-nos e apagam, sofrem os seres que se dispuseram a conviver
conosco, nesta dimensão.
Conflitos entre pai e mãe, repercutem no âmago
dos filhos, sopram-lhes temores aos ouvidos, criam para eles um clima
de incertezas e insegurança, paralisam esperanças.
Eles precisam de
ambos para levar a bom termo o projeto de vida que lhes cabe
implementar.
Alguns deles vêm para a aventura da vida terrena com o
propósito de cimentar a união, reparando fraturas remanescentes de
passadas disputas.
A tarefa da conciliação constitui elevada prioridade
para todos e, por isso, não há esforço ou sacrifício, tolerância ou
compreensão que sejam demais.
Se o preço parece excessivamente alto é
porque a dívida é, igualmente, vultosa.
Se, porém, a despeito de tudo
o que for dito, planejado e considerado, a ruptura ocorre mesmo, pelo
menos que se faça tudo civilizadamente, sem rancores ou agressões, com
um mínimo possível de dor para todos, mas, principalmente, para os
filhos.
Estou dramático?
Talvez.
Talvez.
Apocalíptico?
Não.
É o que vemos nos painéis que a vida em sociedade vem
exibindo nestes tempos difíceis.
Se, por acaso, você me perguntar que
tenho eu a ver com isso, um septuagenário já no poente da existência,
poderei dizer das minhas razões.
Há uns poucos anos, numa das
viagens aos Estados Unidos, fui convidado para fazer uma palestra a um
grupo de pessoas interessadas nos enigmas e perplexidades da vida.
Não
que eu tenha soluções prontas e acabadas para as mazelas humanas, mas
porque venho insistindo teimosamente, obstinadamente, em que está
fazendo uma falta terrível à sociedade em que vivemos a visão da
realidade espiritual.
Em vez de nos vermos como espíritos
temporariamente acoplados a um corpo físico, assumimos a identidade
desse corpo, confundimo-lo com a nossa própria individualidade e estamos
levando o espírito a reboque, como um traste inútil e que, além de
tudo, estaria atrapalhando a plena realização da insensatez que parece
instalada na memória coletiva.
Mas e daí?
Por que a
preocupação, se já está chegando a hora de você ir embora, para essa
dimensão cósmica da qual você tanto fala? — insistirá você.
É simples,
“meu caro minha querida”.
Esta não será, certamente,
minha derradeira passagem pela matéria bruta.
Terei que voltar para aqui
de outras vezes, como também você.
Ao retornar, em novo corpo físico,
para mais uma existência, não me importa qual será a minha raça, cor,
nacionalidade ou condição social.
O que desejo, pretendo e peço a Deus é
que tenha mãe e pai que se amem e que me amem.
E que me proporcionem o
apoio e o carinho de que vou necessitar até que possa recomeçar a
exploração do mundo com meus próprios recursos.
Foi o que disse aos
americanos.
Não desejo, se isto for
possível, ficar chorando em alguma esquina do mundo futuro, porque minha
mãe não pode ficar junto de mim e de meu pai.
Vou precisar deles,
minuto por minuto, do amor que desejo que tenham por mim, tanto quanto
do amor que tenham um pelo outro, por Deus e pela vida.
Quero que me
falem de Deus, me ensinem de novo a falar com ele, a vê-lo através das
minhas lágrimas e a senti-lo em mim, nos momentos de harmonização
cósmica.
Como iria cumprir um programa desses numa sociedade que se
esqueceu d’Ele, tanto quanto de si mesma, porque só cuida do momento que
passa e do próximo prazer?
Livro:- "Nossos Filhos São Espíritos"
cap. 21,
Hermínio Correa de Miranda
ou Hermínio C. Miranda
Fonte:CACEF
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