Espíritos de Crianças na Erraticidade
O
tema do presente artigo adveio do questionamento feito por um leitor do Blog Um Olhar Espírita, quando indagou se seria possível a existência
de crianças na erraticidade, posto que, no grupo espírita que frequenta
muito comumente elas se apresentam nas reuniões mediúnicas desenhando
flores.
Para
alcançarmos o entendimento do assunto em pauta, precisamos pontuar e
analisar alguns aspectos propostos em O Livro dos Espíritos.
Inicialmente trataremos de “períspirito”.
Asseveram os Mestres da
Espiritualidade, que o Espírito é envolvido por uma substância vaporosa,
denominada por Kardec de “períspirito”, que é retirado do “fluido
universal de cada globo”.
Pode-se
atribuir ao períspirito duas finalidades. Lembrando que ainda estamos
longe de conhecer todos os seus atributos.
Dizem-nos os Espíritos da
Codificação, que na condição de encarnado, ele serve de liame entre o
Espírito e o corpo material.
Já
para o desencarnado, o períspirito funciona como o envoltório
semimaterial, que toma a forma ao “arbítrio” do Espírito.
Portanto,
afirmam os Mestres Espirituais que é através do períspirito que aquele
“aparece algumas vezes, seja nos sonhos, seja no estado de vigília,
podendo tomar uma forma visível e mesmo palpável”.
(O Livro dos
Espíritos, questão 95)
Importante
tais elucidações, para clarificar que o Espírito se apresentará tomando
a forma a seu alvedrio, objetivando ser reconhecido por aqueles que o
conheceram sob tal roupagem, ou para atender outras questões de seu
interesse.
Entretanto, comumente será visto sob a forma e identidade de
sua última encarnação.
Senão
vejamos o questionamento feito por Kardec a respeito:-
- “Como a alma
constata a sua individualidade, se não tem mais o corpo material”.
Respondem os Espíritos que através do períspirito representará a
aparência da sua última encarnação.
(O Livro dos Espíritos, pergunta
150-a) (grifos nosso)
No
que tange a volta ao mundo espiritual, oportuno ressaltar que a
consciência de si mesmo e de sua condição espiritual não se faz de
pronto.
Daí, grande parte dos Espíritos vivenciam o chamado “estado de
perturbação”.
Asseveram os Espíritos da Codificação, que tal estado
varia de acordo com o grau evolutivo do desencarnado.
“Aquele que já
está depurado se reconhece quase imediatamente, porque se desprendeu da
matéria durante a vida corpórea enquanto o homem carnal, cuja
consciência não é pura, conserva por muito tempo mais a impressão da
matéria”.
(O Livro dos Espíritos, p.164)
Pode-se
inferir de tal assertiva, que as pessoas mais espiritualizadas,
esclarecidas, moralizadas, se desvincularão mais rapidamente do corpo
físico e das questões próprias da vida material, tomando consciência de
si mesmas, e da realidade espiritual que as envolve.
Em
contrapartida, a grande parte dos que vivem às voltas apenas com as
questões próprias da vida material, levará um tempo considerável para se
libertar das sensações e impressões do corpo físico, como das questões
cotidianas que dizem respeito ao mundo dos encarnados.
Ao
tratar do “retorno à vida espiritual”, Kardec indaga na questão 149 de O
Livro dos Espíritos, em que se transforma a alma no instante da morte.
Respondem os Espíritos Superiores que “volta a ser Espírito, ou seja,
retorna ao mundo dos Espíritos que ela havia deixado temporariamente”.
Argui então o Codificador na questão 150 da referida obra, se “a alma
conserva a sua individualidade após a morte”, ao que os Mestres
respondem que o Espírito não a perde jamais.
Portanto,
pelo desenvolver das ideias, fica claro que é através do períspirito
que o Espírito tomará a forma que lhe convém, buscando retratar a sua
individualidade.
Entretanto, a consciência de si mesmo e de sua condição
de desencarnado vai depender do tempo de duração do seu estado de
perturbação, que por sua vez dependerá de uma maior ou menor ligação com
a vida material.
Esse é um preceito geral aplicável a todos os
Espíritos que desencarnam no planeta Terra.
Depois
da regra geral apresentada, vamos adequá-la aos indivíduos que
desencarnam na infância.
A esse respeito, vale ressaltar que tais
crianças poderão ser Espíritos com muito mais experiência do que os
adultos que ficaram no plano físico.
Aliás,
asseveram os Mestres da Espiritualidade que tal evento é bastante
comum, e que “a duração da vida da criança pode ser, para o seu
Espírito, o complemento de uma vida interrompida antes do tempo devido, e
sua morte é frequentemente uma prova ou uma expiação para os pais”. (O
Livro dos Espíritos, perguntas 197/199)
Faz-se
por oportuno observar que o Espírito que desencarna criança, não é um
“Espírito criança”.
Já tem uma longa bagagem de experiências a ponto de
já encarnar em um corpo de grande complexidade, que é o caso do corpo
humano.
Portanto, como dito anteriormente, pode até ser um Espírito
muito mais experiente e evoluído do que os pais.
Adiante
questiona Kardec em que se transforma o Espírito de uma criança morta
em tenra idade.
Aliás, particularmente nos países subdesenvolvidos, é
grande número de crianças que vivem poucas horas, dias, meses ou alguns
anos, vindo precocemente a desencarnar pelas mais diversas causas.
Ao
que respondem os Espíritos:-
- “Recomeçar uma nova existência”.
Ou seja,
serão preparados para uma nova encarnação. (O Livro dos Espíritos,
pergunta 199-a)
Por
fim, o Codificador indaga:-
- “Com a morte da criança o Espírito retoma
imediatamente o seu vigor primitivo”?
Respondem os Mestres Espirituais:-
–
“Assim deve ser, pois que está desembaraçado do seu envoltório carnal;
entretanto, ele não retorna a sua lucidez primitiva enquanto a separação
não estiver completa, ou seja, enquanto não desaparecer toda a ligação
entre o Espírito e o corpo”.
(O Livro dos Espíritos, pergunta 381)
(grifos nosso)
Observa-se,
portanto, que a forma infantil de se apresentar, se deve ao estado de
perturbação.
Ou seja, é a forte ligação com o corpo material, que não
permite ao Espírito identificar-se no “vigor primitivo” como dizia
Kardec.
Diante
do exposto, pode-se concluir que passado o estado de perturbação, onde o
Espírito tomará consciência de si mesmo e de sua condição espiritual,
não haverá porque se fazer representar tomando a forma infantil.
Não
obstante, vale pontuar algumas hipóteses.
Um Espírito evoluído que
passou por um breve período de perturbação ao desencarnar, poderá tomar a
forma de criança para confortar e ser reconhecido pelos pais,
familiares ou amigos encarnados que sofrem a saudade de sua partida
precoce.
Muito
comumente, pais que perderam filhos a mais de vinte, trinta anos,
relatam que viram, sonharam, falaram com suas crianças que se mostravam
com a mesma aparência que tinham ao desencarnar.
Nesse caso, pode-se
entender que tais Espíritos, caso não mais estejam em estado de
perturbação, procurassem retratar a forma infantil para serem
reconhecidos por genitores e/ou familiares.
Mas,
e as crianças que comparecem às reuniões mediúnicas espíritas, ou são
vistas transitando por casas, ruas, hospitais, templos, etc ...? Já sabemos
a resposta.
São Espíritos em estado de perturbação, ainda fortemente
ligados ao corpo material, sem consciência de si e de sua condição de
desencarnado.
Não
obstante, pode-se considerar uma nova hipótese.
Somos sabedores que em
razão da plasticidade do períspirito, e da capacidade que tem o Espírito
de moldá-lo ao seu arbítrio, Espíritos inferiores, não mais em estado
de perturbação, poderão apresentar-se como crianças, objetivando outros
interesses.
Por que não?
É outra possibilidade a se aventar.
E
então o que fazer?
Orar por todos, conversar mentalmente, e buscar
ajudá-los a se perceberem como Espíritos que são.
Afinal não existem
“Espíritos crianças”, pois o período de infância, adolescência,
maturidade e envelhecimento, é uma condição do corpo físico, que obedece
a esse processo orgânico de maturação, próprio dos nativos do planeta
Terra.
No
que concerne ao Espírito, este tem a sua infância espiritual
dimensionada pelo grau de inexperiência diante das Leis Universais.
A
infância espiritual se faz identificar pelo estado de ignorância.
Como
dizem os Mestres Espirituais todos os Espíritos são criados simples e
ignorantes.
Pode-se
asseverar que será mediante o processo de evolução moral e intelectual
que o Espírito alcançará a maturidade.
O corpo físico é apenas um
instrumento necessário para o aprendizado no planeta Terra.
Morre o
corpo infantil, e sobrevive o Espírito imortal e eterno, com toda uma
bagagem de aquisições intelectuais e morais, advindas das múltiplas
experiências reencarnatórias, e que integram a sua individualidade.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
O Livro dos Espíritos
Allan Kardec
Editora Lake
62ª Edição
2001
São Paulo/SP