E triste, Cidália morreu em março.
Pouco antes de ir embora, chamou o enteado e fez um pedido:-
- Ele deveria evitar que João Cândido se desfizesse, novamente, dos filhos - seis dela e nove do primeiro casamento.
Ah, mãe, fiquei preocupada.
Eu prometo que, enquanto minha última irmã não estiver casada, minha missão no lar não terá acabado.
Depois da promessa, o apelo.
Não vá embora, não.
Com quem vou conversar sobre minhas visões?
Quem vai acreditar em mim ?
Num último esforço, Cidália o consolou.
Tenho Fé que você ainda há de encontrar aquelas pessoas do arco-íris* e elas vão te entender mais do que eu.
Chico se sentia sozinho apesar das visitas esporádicas da mãe e das sessões no Centro Luiz Gonzaga.
Para escapar do coro dos céticos, ele arrastava os pés pelas ruas de terra do arraial e, com os sapatos sempre frouxos, tomava o rumo do açude.
Aquele era o seu refúgio.
ali, ele se encolhia à sombra de uma árvore, na beira da represa, encarava o céu e rezava ao som das águas.
Em 1931, o bucolismo da cena deu lugar ao fantástico.
O rapaz teve sua conversa com Deus interrompida pela visita de uma cruz luminosa.
Franziu os olhos e percebeu, entre os raios, a poucos metros, a figura de um senhor imponente, vestido com túnica típica de sacerdotes.
O recém chegado foi direto ao assunto.
Está mesmo disposto a trabalhar na mediunidade?
-Sim, se os bons espíritos não me abandonarem.
- Você não será desamparado, mas para isso é preciso que trabalhe, estude e se esforce no Bem.
O senhor acha que estou em condições de aceitar o compromisso ?
- Perfeitamente, desde que respeite os três pontos básicos para o serviço.
Diante do silêncio do desconhecido, Chico perguntou:-
- Qual o primeiro ponto ?
A resposta seca:-
-Disciplina.
- E o segundo ?
- Disciplina.
- E o terceiro ?
- Disciplina, é claro.
Chico Xavier concordou.
E o estranho aproveitou a deixa:-
- Temos algo a realizar.
Trinta livros para começar.
O rapaz levou um susto.
Como iria comprar tinta e papel ?
Quem pagaria a publicação de tantos títulos ?
O salário de caixeiro no armazém de Felizardo mal dava para as despesas de casa, os 13 mil-réis mensais, eram gastos com catorze irmãos, seu pai era apenas um vendedor de bilhetes de loteria.
Chico arriscou uma previsão.
- Papai vai tirar a sorte grande ?
O forasteiro encerrou as apostas:-
- Nada, nada disso.
Sorte grande mesmo é o trabalho com Fé em Deus.
Os livros chegarão por caminhos inesperados.
O roteiro estava escrito.
Restava ao matuto de Pedro Leopoldo seguir as instruções.
Seus passos, tropeços e quedas, muitas quedas, seriam acompanhados de perto por aquele estranho a cada dia mais íntimo.
O nome dele, Emmanuel.
O mesmo que tinha se apresentado a Carmem Perácio quatro anos antes.
A missão:-
- Guiar o rapazote e evitar que ele fugisse do script traçado no além.
Chico deveria colocar no papel as palavras ditadas pelos mortos e divulgar, por meio do Livro, a Doutrina dos Espíritos.
"As Vidas de Chico Xavier" - Marcel Souto Maior - Editora Planeta.
*A equipe de Espíritos chefiada por Emmanuel, e principalmete este, devido a grandeza e peculiaridade da tarefa, provavelmente possui ou possuía, atmosfera espiritual colorida a lembrar um arco-íris, como dizia Chico, pois de uma forma incompreensível para nós, as imagens ilustrativas de suas páginas, forma sendo adornadas invariavelmente com um arco-íris.
Podemos dizer mais:-
- Fazer isso tornou-se algo quase irresistível, enquanto que os fundos (ou backs), pediam sempre para o marrom, a lembrar chão, terra.
Por não compreender-lhe o motivo, retiramos o arco-íris de quase todas as ilustrações, preservando apenas a desta página.
Da página que apresenta Emmanuel em sua encarnação, como Manuel da Nóbrega (onde o desejo de inserir imagens da fauna e flora brasileira, exuberante e colorida nos tons do arco-íris, também foi algo quase irresistível) e que ilustra a página ainda em construção "Anjos do Brasil ", dedicada aos Espíritos que velam pelo Brasil desde as usas primeiras horas, dentre eles, Emmanuel.
Lori
Instituto André Luiz
Nenhum comentário:
Postar um comentário