Era uma Vez
Era uma vez Cármen Cinira, Um coração
Cheio de sonho e flor, que mal se abrira Nos jardins encantados da ilusão... Estraçalhou-se para sempre Na voragem Das trevas, dos abrolhos!... Era uma vez Cármen Cinira... Uma suposta imagem Da perene alegria, Mas que trouxe em seus olhos, Eternamente, Essa amarga expressão de alma doente, Cheia de pranto e de melancolia!... Cármen Cinira! Cármen Cinira! Que é da minha cigarra cantadeira? Embalde te procuro. Por que cantaste assim a vida inteira, Cigarra distraída do futuro? Perturbada, Aturdida, Busco a mim mesma aqui nestoutra vida... Onde estou, onde estou? Minha vida terrena se acabou E sinto outra existência revelada! Não sei por que me sinto amargurada... Sinto que a luz me guia Para a paz, para um mundo de alegria. Mas, ó imortalidade Se na Terra eu te via Como a aurora divina da verdade, Não julguei que inda a morte me abriria Esse cenário deslumbrante De outros sóis e de outros seres, E vejo agora Que não amei bastante, E não cumpri à risca os meus deveres! A fagulha de crença Que eu possuía, Devia transformar numa fornalha imensa De fé consoladora, E incendiar-me para ser luzeiro. Mas, ó Senhor da paz confortadora, Eu vi chegar o dia derradeiro Em minha dor, na máscara de festa, E a morte me apanhou Como se apanha uma ave na floresta. Experimento a grande liberdade! Todavia, Senhor, ampara-me e protege Minha triste humildade! Eu te agradeço a paz que já me deste, Mas eis que ainda te imploro comovida, Porque me sinto em fraca segurança; Deixa que eu guarde ainda nesta vida Meu escrínio de estrelas da Esperança. |
Livro:- Parnaso de Além Túmulo
Carmem Cinira
Francisco Cândido
Xavier
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