Atravessando Decepções
“(...) A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, (...).” – Delphine de Girardin[1] [1]
Todo mundo que se encontra reencarnado na Terra, de uma forma ou de outra, já se viu às
voltas com as decepções ocasionadas por experiências que não deram
certo.
Os malogros nas expectativas geram em nosso íntimo um sentimento
de frustração capaz de nos levar às lágrimas ou até mesmo, se formos
descuidados, a um quadro de desequilíbrio emocional.
A reação diante das desilusões varia de acordo com o
nível de consciência, de quem as experimenta, com relação à dinâmica da
vida.
Existem pessoas que, em suas análises descabidas, se revoltam e
põem-se a culpar terceiros de seus insucessos; alguns também dizem ser
por causa dos Espíritos desencarnados o mau resultado de seus
empreendimentos.
Muitos se revoltam, abandonam as crenças que “deveriam”
– no seu mesquinho entendimento – facilitar-lhes o acesso às coisas
boas da Terra.
Ainda há aqueles que se crêem perseguidos pelo azar ou que pensam terem nascido para sofrer – lançam mão da
idéia distorcida do “carma” –, deixando-se conduzir por pensamentos de
masoquismo e lamentação onde, muito provavelmente, desencarnados
infelizes se satisfazem associando-se ao campo mental de suas
invigilantes vítimas.
Outros, porém, quando atravessam qualquer surpresa desagradável, embora sofram, chorem porque são gente e sintam uma tristeza decorrente do fatoinfeliz, que num primeiro momento parece significar o naufrágio de
seus sonhos, aproveitam o saber espírita que já internalizaram para
entender o porquê de suas aflições presentes.
Estes estabelecem mediante
a prece um alargar dos horizontes sobre sua
reencarnação atual, e se candidatam a concretizar um belo roteiro de
fé, renúncia e coragem, rumo às alternativas para atingirem o tentame
que tanto anelam.
Eles agem “(...) como bravos soldados que,
longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados à
paz que não lhes pode dar glória, nem promoção!
(...)[1][2] Aliás, uma
certa canção do Sul já apontou:-
- “Não tá morto quem peleia!”
Dessa
forma, quem se dispõe a seguir em frente, buscando captar – à luz do
Espiritismo – a lição que a dificuldade lhe traz, passa a desenvolver um
comportamento otimista diante das ocorrências ruins, identificando as pedrasdo
caminho como material para erguer uma estrada rumo ao seu ideal, porque
compreende racionalmente que tudo conspira ao seu favor e se algo não
aconteceu como o esperado, não obstante toda a sua dedicação e esforço,
foi porque a Divina Providência não julgava fundamental para a sua
evolução, como nos elucida o Espírito Joanes,
através da psicografia de Raul Teixeira:-
- “(...) coisa nenhuma é
essencialmente importante para o seu progresso espiritual a não ser a
sua sempre crescente integração no espírito da vida, (...).”[1][3]
Assim, dentro de uma resignação ativa,
façamos o possível para depreender o que se passa conosco, senão
especificamente, ao menos em linhas gerais e quando nosso sonho seja
nobre e útil no “reino do espírito”, tenhamos perseverança, pois tudo
correrá bem.
Nada
de depressão!
Nem tampouco de desespero ou inconformismo doentio.
Ensina-nos Allan Kardec, ao comentar as causas das misérias humanas que
“(...)
A situação material e moral da Humanidade terrestre nada tem que
se espante, desde que se leve em conta a destinação da Terra e a
natureza dos que a habitam.”[1][4]
Deste modo, podemos considerar a
nossa Casa Planetária como uma escola onde precisamos galgar
passo-a-passo seu currículo para, no tempo devido, avançarmos nos níveis
de estudo e obtermos condições para realizar as tarefas exigidas pelo
aprendizado adquirido.
Espíritos
calcetas que somos, apresentamo- nos na Terra como alunos rebeldes em
estado de repetência de experiências com vistas a um futuro promissor.
Essa
é a possibilidade de um amanhã mais prazenteiro, que se inicia no
presente momento no qual nos dispomos a aprender, crescer e conquistar
uma vitória diferente da que o mundo materialista, promotor de um
consumismo fanatizante propõe: uma vitória sobre nós mesmos, no tocante à
libertação de nossos condicionamentos inferiores.
Para
tanto, é preciso muita coragem porque nesses dias de disputas
descabidas, de agressividade exacerbada nas mais diversas formas de sua
danosa apresentação, compondo o horrendo espetáculo de nossa insistente
animalidade, enfrentar a si mesmo, num esforço hercúleo de nos tornarmos
criaturas melhores, promotoras da felicidade e do amor onde estivermos é
um desafio descomunal, mas necessário aos que abraçamos o Espiritismo.
Então
querido irmão ou irmã, não nos agastemos com qualquer forma de
desânimo, recordemo-nos que o Pai sabe de tudo quanto precisamos para
sermos felizes, jamais nos desamparando, concedendo-nos até mesmo um
“(...) Espírito protetor de uma ordem elevada(...)[1][5] para nos
inspirar ânimo e alegria em cada etapa de nossa jornada evolutiva, sendo
este um ser amorável que não deixa de apostar em nossas
potencialidades, fazendo-se conselheiro fiel e irmão constante no
consolo de nossas aflições.
Caso
estejamos enfrentando graves provações, sejam elas de afastamento dos
seres queridos por motivos alheios à nossa vontade, enfermidades
difíceis, uma perda qualquer, ou até mesmo a infelicidade de ver nossos
sonhos projetados ao longo do tempo não se efetivarem, guardemos
confiança naProvidência Divina, que nos reserva sempre o que há de bom e verdadeiramente imprescindível.
Lembremo-nos
sempre do Mestre de nossos corações quando ditou às almas sofridas
pelas intempéries da existência corporal:-
- “Observai as aves do céu: não
semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste
as sustenta.(.. .)”[1][6] E destarte, fiquemos alegres!
[1] O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. V, item 24.
[2] Idem.
[3] TEIXEIRA, J. Raul. Para uso diário. Pelo Espírito Joanes. 3.ed.Niterói, RJ: Fráter, 2001; p. 43.
[4] O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap III, item 6.
[5] O Livro dos Espíritos, questão 491.
[6] Mateus 6: 26.
Fonte:- Revista Internacional de Espiritismo – Maio/2005
Vinícius Lousada