Jesus
O Auxílio Mútuo
Diante dos companheiros, André leu expressivo trecho de Isaías e falou, comovido, quanto às necessidades da salvação.
Comentou
Mateus os aspectos menos agradáveis do trabalho e Filipe opinou que é
sempre muito difícil atender à própria situação, quando nos consagramos
ao socorro dos outros.
* * *
Jesus ouvia os apóstolos em silêncio e, quando as discussões, em derredor, se enfraqueceram, comentou, muito simples:-
–
Em zona montanhosa, através de região deserta, caminhavam dois velhos
amigos, ambos enfermos, cada qual a defender-se, quanto possível, contra
os golpes do ar gelado, quando foram surpreendidos por uma criança
semimorta, na estrada, ao sabor da ventania de inverno.
Um
deles fixou o singular achado e clamou, irritadiço:- – “Não perderei
tempo.
A hora exige cuidado para comigo mesmo.
Sigamos à frente”.
O outro, porém, mais piedoso, considerou:-
– “Amigo, salvemos o pequenino.
É nosso irmão em humanidade”.
–
“Não posso – disse o companheiro, endurecido – sinto-me cansado e
doente.
Este desconhecido seria um peso insuportável.
Temos frio e
tempestade.
Precisamos ganhar a aldeia próxima sem perda de minutos”.
E avançou para diante em largas passadas.
O
viajor de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o menino estendido,
demorou-se alguns minutos colando-o paternalmente ao próprio peito e,
aconchegando-o ainda mais, marchou adiante, embora menos rápido.
A
chuva gelada caiu.
Metódica, pela noite a dentro, mas ele, sobraçando o
valioso fardo, depois de muito tempo atingiu a hospedaria do povoado
que buscava.
Com
enorme surpresa, porém, não encontrou aí o colega que o precedera.
Somente no dia imediato, depois de minuciosa procura, foi o infeliz
viajante encontrado sem vida, num desvão do caminho alagado.
Seguindo
à pressa e a sós, com a ideia egoística de preservar-se, não resistiu à
onda de frio que se fizera violenta e tombou encharcado, sem recursos
com que pudesse fazer face ao congelamento, enquanto que o companheiro,
recebendo, em troca, o suave calor da criança que sustentava junto do
próprio coração, superou os obstáculos da noite frígida, guardando-se
indene de semelhante desastre. Descobrira a sublimidade do auxílio
mútuo…
Ajudando ao menino abandonado, ajudara a si mesmo.
Avançando com
sacrifício para ser útil a outrem, conseguira triunfar dos percalços da
senda, alcançando as bênçãos da salvação recíproca.
A história singela deixara os discípulos surpreendidos e sensibilizados.
* * *
Terna
admiração transparecia nos olhos úmidos das mulheres humildes que
acompanhavam a reunião, ao passo que os homens se entreolhavam,
espantados.
Foi então que Jesus, depois de curto silêncio, concluiu expressivamente:-
–
As mais eloquentes e exatas testemunhas de um homem, perante o Pai
Supremo, são as suas próprias obras.
Aqueles que amparamos constituem
nosso sustentáculo.
O coração que socorremos converter-se-á agora ou
mais tarde em recurso a nosso favor.
Ninguém duvide.
Um homem sozinho é
simplesmente um adorno vivo de solidão, mas aquele que coopera em
benefício do próximo é credor do auxílio comum.
Ajudando, seremos
ajudados. Dando, receberemos:-
- Esta é a Lei Divina.
Livro:- Jesus no Lar
Néio Lúcio
Chico Xavier.
Ed. FEB
Federação Espírita Brasileira