Juvenal
e Gabriel, obsessores experientes, transmitem um pouco do seu
conhecimento para o novato Aleijado, que iniciava-se na “arte” de
obsediar…
- A noite é uma fabriquinha de
horrores – exprimiu-se Juvenal, irônico, no que foi acompanhado pela
risada divertida de Gabriel, demonstrando ansiedade para perguntar como é
que funcionava aquele processo de interferência no mundo dos “caveiras
vestidas”, como costumavam referir-se aos seres encarnados.
- Ora, Aleijado, vai tranquilo que
hoje você vai receber uma aula do Chefe, para aprender como é que as
coisas acontecem no mundo dos mortos vivos, aqueles que pensam que estão
vivos, mas estão mais mortos do que nós, os verdadeiramente vivos.
- Credo, que confusão, Juva, morto com vivo, não entendi nada.
- Ora, como não?
Quem está vivo é quem
manda e quem está morto é quem obedece.
Nós colocamos as coisas na
mente dos imbecis e eles obedecem, achando que são donos da verdade e
das próprias vontades.
Quer coisa mais de morto do que isso?
São uns
bonecões sacolejando seus esqueletos por aí, bancando os importantes, os
bacanas, escondendo-se atrás de copos e maços de cigarro, drogas e
prazeres, dos quais somos nós os que mais gozamos, sugando tudo aquilo
que eles nos oferecem.
Se você perceber bem, eles são como vaquinhas que
nos dão o leite de cada dia sem que precisemos pagar nada por ele.
Basta achar o cara certo e dizer-lhe o
que deseja escutar que, a partir daí, fica fácil que nos sirva até o
esgotamento.
Quem é que está morto e quem é que está vivo?
Olhando o amigo que se divertia com os
conceitos que manipulava para seu entendimento, Gabriel sorriu meio
encantado e falou, desconjuntado:-
- É mesmo, Juva, pensando desse jeito, até que a gente é mais esperto do que eles, né?
- Claro, seu bobão… é por isso que nós
temos que atacá-los e afastá-los de tudo o que possa abrir seus olhos
para a sua condição real, porque cada um que nos abandona, deixa de nos
servir como fonte de alimentos.
Assim, temos que prejudicar todas as
pessoas que se dedicam a esse negócio de falar com os defuntos,
perturbando suas vidas, atrapalhando seus negócios, fazendo tudo para
que se desequilibrem e desistam de seguir com essa coisa de
esclarecimento, de aprendizado, de reforma íntima.
- É isso mesmo – concordava Gabriel, para agradar o amigo que estava se exaltando.
- Se esse negócio de passeata e
manifestação funcionasse por aqui, sairia com uma faixa escrita:-
- “MATEMOS
OS MÉDIUNS”,
- “FOGO NOS CENTROS ESPÍRITAS”,
- “MORTE AOS FALSOS
CORDEIROS”,
para fazermos um movimento que nos defenda o direito de nos
alimentarmos dos vivos que nos querem servir por gosto próprio.
Imagine, Aleijado, o que seria de nós se
todas as pessoas parassem de beber, de fumar, de usar drogas, de roubar,
de abusar do sexo, onde é que nós ficaríamos, como nos sentiríamos se
as nossas vaquinhas abandonassem os nossos currais e fossem embora?
E o
nosso leite, nosso queijo, nosso filé mignon, nossos prazeres, onde
ficariam?
Esse movimento de esclarecimento das consciências é um
verdadeiro atentado aos nossos mais sagrados interesses pessoais e não
podemos permitir que isso avance sem fazer algo para parar com essas
loucuras.
Se acreditam no Bem e nesse negócio de Jesus, que escolham um
outro mundo, desses que estão pendurados por aí, e que se mudem para lá,
deixando para nós este, que já nos pertence há muito tempo.
Vão fingir
bondade em outro lugar.
Livro:- Despedindo-se da Terra
Cap. 16
Espírito Lúcius
André Luiz Ruiz
Nenhum comentário:
Postar um comentário