O tempo e as jabuticabas ...
Contei meus anos e descobri que
terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Tenho mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que ganhou
uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicente mas
percebendo que faltam poucas, rói o caroço...
Já não tenho
tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde
desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem
eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não
tenho tempo para conversas intermináveis.
Já não tenho tempo para
administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são
imaturas.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram
pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
As pessoas não
debatem conteúdos apenas os rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para
debater rótulos quero a essência, minha alma tem pressa.
Sem
muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito
humana;
- que sabe rir de seus tropeços,
- não se encanta com triunfos,
- não
se considera eleita antes da hora e
- não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena e para mim basta o essencial.
Rubem Alves
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