terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Novel, depoimento de Espírito Sofredor após desencarne


vento01 
 Novel, depoimento de Espírito Sofredor após desencarne 

 Livro O Céu e o Inferno

Allan Kardec

 1865

O Céu e o Inferno 

 Espíritos Sofredores

O Espírito dirige-se ao médium, que em vida o conhecera.

“Vou contar-te o meu sofrimento quando morri. 


Meu Espírito, preso ao corpo por elos materiais, teve grande dificuldade em desembaraçar-se — o que já foi, por si, uma rude angústia.

A vida que eu deixava aos 21 anos era ainda tão vigorosa que eu não podia crer na sua perda. 

Por isso procurava o corpo, estava admirado, apavorado por me ver perdido num turbilhão de sombras.

Por fim, a consciência do meu estado e a revelação das faltas cometidas, em todas as minhas encarnações, feriram-me subitamente, enquanto uma luz implacável me iluminava os mais secretos âmagos da alma, que se sentia desnudada e logo possuída de vergonha acabrunhante.

Procurava fugir a essa influência interessando-me pelos objetos que me cercavam, novos, mas que, no entanto, já conhecia; os Espíritos luminosos, flutuando no éter, davam-me a idéia de uma ventura a que eu não podia aspirar; formas sombrias e desoladas, mergulhadas umas em tedioso desespero; furiosas ou irônicas outras, deslizavam em torno de mim ou por sobre a terra a que me chumbava.

Eu via agitarem-se os humanos cuja ignorância invejava; toda uma ordem de sensações desconhecidas, ou antes reencontradas, invadiram-me simultaneamente.

Como que arrastado por força irresistível, procurando fugir à dor encarniçada, franqueava as distâncias, os elementos, os obstáculos materiais, sem que as belezas naturais nem os esplendores celestes pudessem calmar um instante a dor acerba da consciência, nem o pavor causado pela revelação da eternidade.  

Pode um mortal prejulgar as torturas materiais pelos arrepios da carne; mas as vossas frágeis dores, amenizadas pela esperança, atenuadas por distrações ou mortas pelo esquecimento, não vos darão nunca a ideia das angústias de uma alma que sofre sem tréguas, sem esperança, sem arrependimento.

De joelhos

Decorrido um tempo cuja duração não posso precisar, invejando os eleitos cujos esplendores entrevia, detestando os maus Espíritos que me perseguiam com remoques, desprezando os humanos cujas torpezas eu via, passei de profundo abatimento a uma revolta insensata.

Chamaste-me finalmente, e pela primeira vez um sentimento suave e terno me acalmou; escutei os ensinos que te dão os teus guias, a verdade impôs-se-me, orei; Deus ouviu-me, revelou-se-me por sua Clemência, como já se me havia revelado por sua Justiça.

Novel.”

dbl2_videira

Nenhum comentário:

Postar um comentário