quinta-feira, 2 de julho de 2015

As Crises do Mundo


As Crises do Mundo

"Entre o passageiro e o comboio que o transporta, há singulares e inconfundíveis diferenças. 

Se o veículo ameaça desastre, é possível que o viajante, dentro dele, se converta em ponto de calma, irradiando reequilíbrio..."

As crises, as dificuldades, os desregramentos do mundo!...

De modo habitual, referimo-nos às provações terrestres, mormente nas épocas de transição, como se nos regozijássemos em ser folha inerte nas convulsões da torrente.

Em verdade, o mundo se encontra em renovação incessante, qual sucede a nós próprios, e, nas horas de transformações essenciais, é compreensível que a Terra pareça uma casa em reforma, temporariamente atormentada pela transposição de linhas e reajustamento de valores tradicionais. 

Tudo em reexame, a fim de que se revalidem os recursos autênticos da civilização, escoimados da ganga dos falsos conceitos de progresso, dos quais a vida se despoja para seguir adiante, mais livre e mais simples, conquanto mais responsável e mais culta.

Natural que a existência em si mesma, nessas ocasiões, se nos afigure como sendo um painel torturado de paixões à solta.

Costumamos olvidar, porém, que o mundo é o mundo e nós somos nós. 

Entre o passageiro e o comboio que o transporta, há singulares e inconfundíveis diferenças. 

Se o veículo ameaça desastre, é possível que o viajante, dentro dele, se converta em ponto de calma, irradiando reequilíbrio.

Assim também, no Planeta... 

Somos todos capazes de fazer cessar em nós qualquer indução à indisciplina ou à desordem. 

Cada qual pode assumir as rédeas do comando íntimo e estabelecer com a própria consciência o encardo de calafetar com a bênção do serviço e da prece todas as brechas da alma, de modo a impedir a invasão da sombra no barco de nossos interesses espirituais, preservando-nos contra o mergulho no caos, tanto quanto auxiliando aqueles que renteiam conosco na viagem de evolução e de elevação.

Faze-te, pois, onde estiveres, um ponto assim de tranquilidade e socorro. 

O deserto é, por vezes, imenso; no entanto, bastam algumas fontes isoladas entre si para garantirem a jornada segura através dele. 

Na ausência do Sol, uma vela consegue acender milhares de outras, removendo o assédio da escuridão.

Que o mundo se encontra em conflitos dolorosos, à maneira de cadinho gigantesco em ebulição para depurar os valores humanos, é mais que razoável, é necessário. 

Entretanto, acima de tudo, importa considerar que devemos ser, não obstante as nossas imperfeições, um ponto de luz nas trevas, em que a inspiração do Senhor possa brilhar.



Emmanuel 
 Francisco Cândido Xavier

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