terça-feira, 15 de abril de 2014

Um Homem Mau Que Queria Ser Bom


 Um Homem Mau Que Queria Ser Bom

"Lembra-te de mim, Jesus, quando entrares no teu reino"...
 
        "Em verdade te digo, ainda hoje estarás comigo no paraíso"...

         Diálogo mais estranho nunca se travou no mundo do que êste, de cruz a cruz, entre dois moribundos.

        "Lembra-te de mim" - quem pede apenas uma gotinha de amor no meio dum inferno de dores não é homem mau.

        O homem intimamente mau maldiz os seus sofrimentos e os autores dos mesmos.

        O homem mesquinho pede libertação dos tormentos ou aceleração da morte.

        O ladrão da cruz pede apenas uma lembrança, um pouco de amor...

        Pede uma migalha daquilo cujo falta o tornara celerado, perverso e cruel;;;

        Desde pequeno, queria êle ser bom - mas os homens o fizeram mau, porque lhe negaram compreensão e amor...

        Deu um passo em falso - e as leis desumanas dos homens o condenaram como malfeitor...

        A companhia perversa da prisão induziu a ser mau a quem queria ser bom...

        E, quando terminou a sua pena, andou pelo mundo com o estígma de criminoso - e nunca mais encontrou entre os "homens honestos" quem lhe desse uma migalha de amor...

        Arrastou-se pela existência noturna  com a alma gelada duma frialdade polar...

        Só na hora suprema da vida, no alto do patíbulo, encontrou, finalmente, um homem humano - seu companheiro de suplício...

        Encontrou um homem que acreditava mais nas saudades de sua alma do que nas maldades de sua vida...

        Encontrou um homem que o amava e queria bem....

        E o "bom ladrão" sentiu uma tépida aura de benevolência a envolver-lhe a alma gelada...

       E, entre o degelo primaveril desse olhar de amor, pediu ao colega de tortura que dele se lembrasse, à luz do seu reino...

        Não pediu vingança para os seus inimigos, não pediu alívio na atróz agonia  - pediu aquilo cuja falta fizera de sua vida um inferno:-
- Uma migalha de amor...

        Uma lembrança apenas...

        Um pensamento carinhoso...

        Uma gotinha de amizade...

        "Lembra-te de mim, quando entrares no teu reino"... 

        E conseguiu na morte, de um moribundo, o que em vida jamais conseguira dos vivos...

        E, pelo pouco que pediu, recebeu o muito que não ousara dizer:-
- "Ainda hoje estarás comigo no paraíso"...

        Sobre as cabeças da multidão ululante, trava-se então, de cruz a cruz, entre dois moribundos, uma amizade sincera, sagrada, eterna...

        Amizade entre um homem divinamente bom e um homem mau que queria ser bom, e que se fêz bom pelo amor...

        Entre o Cristo Redentor - e um homem redimido.


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