segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A balança

  
"A  Balança"

Quando menino eu vivia brigando com meus companheiros de brinquedos.

E voltava para casa lamuriando e queixando-me deles. 

Isto ocorria, as mais das vezes, com Beto, o meu melhor amigo.

Um dia, quando corri para casa e procurei mamãe para queixar-me do Beto ela
me ouviu e disse o seguinte:-

- Vai buscar a sua balança e os blocos.


- Mas, o que tem isso a ver com o Beto?


- Você verá... Vamos fazer uma brincadeira.


Obedeci e trouxe a balança e os blocos. 


Então ela disse:-

- Primeiro vamos colocar neste prato da balança um bloco para representar
cada defeito do Beto.

Conte-me quais são.

Fui relacionando-os e certo número de blocos foi empilhado daquele lado.


- Você não tem nada mais a dizer?


Eu não tinha e ela propôs:-

-Então você vai, agora, enumerar as qualidades dele. 

Cada uma delas será um bloco no outro prato da balança.

Eu hesitei, porém ela me animou dizendo:-


- Ele não deixa você andar em sua bicicleta?


Não reparte o seu doce com você?

Concordei e passei a mencionar o que havia de bom no caráter de meu
amiguinho. 

Ela foi colocando os blocos do outro lado. 

De repente eu percebi que a balança oscilava.

Mas vieram outros e outros blocos em favor do Beto.

Dei uma risada e mamãe observou:-


- Você gosta do Beto e ficou alegre por verificar que as suas boas

qualidades ultrapassam os seus defeitos. 


Isso sempre acontece, conforme você mesmo vai verificar ao longo de sua vida.

E de fato. 


Através dos anos aquele pequeno incidente de pesagem tem exercido importante influência sobre meus julgamentos.

Antes de criticar uma pessoa, lembro-me daquela balança e comparo seus pontos bons com os maus. 

E, felizmente, quase sempre há uma vantagem compensadora, o que fortalece em muito a minha confiança no gênero humano.

De: “E para o resto da vida”,
de Wallace Leal Rodrigues

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