O Colhedor de Risos
Há muitos e muitos anos, viveu na Terra um homem que fazia rir.
Entre tantos ofícios considerados úteis e produtivos, como o de
lenheiro, ferreiro ou alfaiate, surgiu este homem que escolheu a
estranha profissão.
Ninguém sabia o seu segredo.
Seria a terna expressão do seu olhar, os
gestos amplos como grandes abraços, as piruetas ou a roupa colorida?
Suspeitava-se até que ele derramasse algum pó na água dos vilarejos, ou
que fosse mesmo uma espécie de mago.
Mas quando ele aparecia numa casa
ou praça, risos eram ouvidos.
As crianças se aproximavam, sempre.
Os velhos o amavam.
Ninguém ficava indiferente.
Era voz corrente que as pessoas que aprendiam a rir brigavam menos,
queixavam-se menos, tinham mais amigos e suas tarefas rendiam muito
mais.
Quando este homem teve um filho, todos se perguntaram:-
- "De que eles vão viver?
Se, pelo menos, trabalhasse a sério..."
Mas ninguém levava mais a sério seu trabalho do que ele.
Com sua esposa e filho, prosseguia sua jornada e nada lhes faltava.
Desde que seu filho se conheceu como gente, observou seu pai.
Foi
crescendo e aprendendo que o trigo vinha da terra, a água vinha da
fonte.
De onde vinham os risos?
Os olhos do menino seguiam-no
atentamente, querendo descobrir...
Ao seguir os passos do pai, o menino encontrou sua vocação:-
- Ia ser um
colhedor de risos.
Colheria risos nobres e populares, alemães,
italianos e espanhóis.
Afinal, viu que o riso é bom pra quem ri e pra
quem faz rir, assim como o trigo ou a água.
Semeado com bondade, brota
espontâneo e nutre a emoção.
Um dia ele confessou seu sonho ao pai, que lhe disse:-
- Como o camponês que conhece sua gleba, é preciso conhecer o coração das pessoas.
Vou levar-te comigo e tu mesmo verás.
Tomando o filho pelas mãos, andaram por muitos lugares.
Quanto mais
conhecia os corações das pessoas, mais via quanto haviam penado e
chorado e quanto precisavam urgentemente de uma boa palhaçada.
Quanto
mais conhecia os corações das pessoas, mais amava vê-las alegres.
A
alegria era o curativo das feridas da alma e o elixir renovador da
esperança.
E assim ele também deu ao seu pai a maior das alegrias quando, já bem
idoso, sentava-se para ver seu filho a colher risos e gargalhadas de
ricos e pobres, nos teatros e descampados.
O filho que segue os passos dos pais sempre pode ir mais longe,
porque começou mais cedo e aprendeu, desde logo, o que os pais levaram
anos para saber.
Por isso, se tens um ensinamento ou um hábito que te
faz bem, oferece-o aos teus pequeninos como dádiva imortal:-
- Eis o que
Deus espera de todos os pais de boa-vontade.
Rita Foelker
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