Sonho Estranho
Sonho caminhar descalça por entre os atalhos de uma densa floresta ao
amanhecer de todas as estações, pois nelas repousam adormecidos os
ventos que em flor se abrem...
Eles, os ventos que guardam meus
silêncios e os silêncios de tudo que já foi meu um dia...
Hoje vejo o
céu vestido de altas e extensas cordilheiras de cor cinza, nuvens que
escurecem o que devia ser radioso de alegria...
Céu que tem olhos de senhor de semblante arrogante e frio como a lâmina da espada de um samurai...
Não desejo ir colher flores na campina verdejante nem ver as borboletas por elas entre voando, distantes do ar carregado da maresia que vem do mar distante...
Parece que as minhas horas ficaram mortas e sem lembranças...
É como se todo o meu corpo sobrenadasse boiando em águas verdes de limo dos lagos quietos, perenes e nebulosos, invariáveis, no bosque quase sem vida onde nem os pássaros querem cantar.
As sombras da noite têm
contornos bizarros que não sei como definir e explicar...
Uma saudade doentia toca minha pele, saudade tão rascante e fria que minha pele fez sangrar...
Saudade de que, de quem?
Talvez saudade de mim?
Sinto-me como a chama trêmula e frágil de uma vela triste ou lamparina
quase extinta que, quando apagar, me deixará cega e vazia...
Ouvirei
apenas e ao longe, bem longe a alegria dos risos das crianças e, mais
longe ainda o doloroso e cruel longe das coisas que nem chegaram a
ser...
Como eu...
Analuz Carvalho
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