"Sobre a Liberdade"
Carta escrita por Krishnamurti às Escolas de Roma em fevereiro de 1968.
Dentre as coisas mais importantes da vida, a principal parece ser a "liberdade".
Esta palavra vem sendo mal empregada pelos governos tirânicos e democráticos do mundo todo, e as religiões têm abusado dela.
Não existe liberdade e independência pessoal, exceto, talvez, no mundo científico - liberdade para investigar.
Não há liberdade no mundo dos negócios, nem nas estruturas religiosas organizadas pelo homem através do medo e da crença; nem tampouco nos governos ou em qualquer campo da atividade humana.
Porém, o homem tem afirmado sempre a sua liberdade e queixa-se de ser o ambiente que o escraviza.
"Liberdade - que significa independência para um pensar claro e individual, e um agir isento dos ditames da sociedade ou das inclinações pessoais, é coisa dificílima."
Mas, sem liberdade, não podemos descobrir ou viver uma vida de todo diferente da agonia diária que bem conhecemos.
Liberdade não é meramente estar livre de alguma coisa; significa liberdade em si, e isso não é permissão para fazermos quanto nos apraz.
Assim, temos de compreender efetivamente as implicações dessa palavra, e não apenas o seu sentido verbal.
Não estamos tentando definir o que é liberdade; cada um a interpreta conforme sua própria fantasia, seu pendor ou educação; e há os que lhe negam a existência.
Não encontramos a liberdade procurando-a, mas sim compreendo o que espiritualmente nos aprisiona.
Derrubando as barreiras da prisão, há a liberdade natural, sem necessitarmos buscá-la.
Assim, o importante não é como obter a liberdade ou saber o que ela é, senão indagar porque a mente - produto do tempo e do ambiente, tendo passado por tantos conflitos e angústias - não é livre.
Releva investigar porque a mente permanece há milhares de anos com um pesado condicionamento. Eis a prisão na qual se encontra.
A mente é condicionada pela sociedade com sua cultura, suas leis, as sanções religiosas, as pressões econômicas, e daí por diante.
Afinal, ela provém do passado e esse passado é tradição.
Cumpre indagar se a mente pode libertar-se de seus próprios condicionamentos.
Segundo alguns, ela se manterá sempre condicionada e nunca terá possibilidade de ser livre; e há quem diga não ser possível libertar-nos aqui dos condicionamentos, mas sim em algum éden da posteridade, ou ao fim de um longo sacrifício, de uma disciplina ou submissão a um novo padrão da chamada prática religiosa.
Ora, a primeira coisa que devemos compreender nesta investigação é a natureza da autoridade.
A lei é necessária em qualquer comunidade, o policial igualmente, porém introduzimo-lo também no mundo interior do pensamento e do sentimento.
A obediência tem sido incutida neste mundo pela tradição, pela experiência e pelo hábito:-
- obediência aos Pais,
- à sociedade,
- ao padre.
- obediência aos Pais,
- à sociedade,
- ao padre.
Todavia, a obediência nasce do medo:-
- medo de errar,
- de agir independentemente,
- de não estar em segurança,
- de não fazer parte da comunidade.
Portanto, o que gera o medo é a autoridade - medo de achar-se só, de cometer um engano.
Queremos viver com o respeito e a consideração social, conforme estabelece a própria sociedade.
Esse mesmo temor condicionou-nos o espírito; sob a sua influência é que se construiu a sociedade, à qual a mente se escravizou.
O homem criou esta sociedade através do:-
- medo,
- da avidez,
-da ambição,
-da inveja, etc.
A disciplina natural, sem qualquer submissão, é simplesmente a observação dos temores, das ansiedades, das invejas, e de outros negativos sentimentos.
Ver a árvore, e ver os próprios temores, as próprias ambições, esse ato de ver é percepção, é disciplina.
"Disciplina" significa aprender e não:-
- submissão,
- repressão, ou
- obediência.
- submissão,
- repressão, ou
- obediência.
Assim, conhecer a natureza e a estrutura dos condicionamentos traz ordem, não a ordem da sociedade, a qual implica desordem.
Por conseguinte, ver o mundo com as suas guerras, seus ódios, as lutas e as confusões, equivale a ver nós mesmos como realmente somos, e ver-nos como somos significa ver o mundo que criamos e do qual em verdade participamos.
E nessa percepção existe liberdade.
Ver um perigo é evitá-lo.
Perceber o perigo dos fortes condicionamentos do homem é evitar todos os condicionamentos.
Em tudo isto o importante é ver não apenas com o intelecto, mas ainda com a visão sensorial.
Do Boletim de Londres, nº 34 da Krishnamurti Foundation
Recebido por e-mail do site:-
http://portaldosanjos.ning.com/group/
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