sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sobre a Liberdade


"Sobre a Liberdade"

Carta escrita por Krishnamurti às Escolas de Roma em fevereiro de 1968.
 
Dentre as coisas mais importantes da vida, a principal parece ser a "liberdade".

Esta palavra vem sendo mal empregada pelos governos tirânicos e democráticos do mundo todo, e as religiões têm abusado dela.

Não existe liberdade e independência pessoal, exceto, talvez, no mundo científico - liberdade para investigar. 

Não há liberdade no mundo dos negócios, nem nas estruturas religiosas organizadas pelo homem através do medo e da crença; nem tampouco nos governos ou em qualquer campo da atividade humana.

Porém, o homem tem afirmado sempre a sua liberdade e queixa-se de ser o ambiente que o escraviza. 

"Liberdade - que significa independência para um pensar claro e individual, e um agir isento dos ditames da sociedade ou das inclinações pessoais, é coisa dificílima."

Mas, sem liberdade, não podemos descobrir ou viver uma vida de todo diferente da agonia diária que bem conhecemos.

Liberdade não é meramente estar livre de alguma coisa; significa liberdade em si, e isso não é permissão para fazermos quanto nos apraz. 

Assim, temos de compreender efetivamente as implicações dessa palavra, e não apenas o seu sentido verbal. 

Não estamos tentando definir o que é liberdade; cada um a interpreta conforme sua própria fantasia, seu pendor ou educação; e há os que lhe negam a existência.

Não encontramos a liberdade procurando-a, mas sim compreendo o que espiritualmente nos aprisiona. 

Derrubando as barreiras da prisão, há a liberdade natural, sem necessitarmos buscá-la.
 
Assim, o importante não é como obter a liberdade ou saber o que ela é, senão indagar porque a mente - produto do tempo e do ambiente, tendo passado por tantos conflitos e angústias - não é livre.
 
Releva investigar porque a mente permanece há milhares de anos com um pesado condicionamento. Eis a prisão na qual se encontra.

A mente é condicionada pela sociedade com sua cultura, suas leis, as sanções religiosas, as pressões econômicas, e daí por diante. 

Afinal, ela provém do passado e esse passado é tradição. 

Cumpre indagar se a mente pode libertar-se de seus próprios condicionamentos.

Segundo alguns, ela se manterá sempre condicionada e nunca terá possibilidade de ser livre; e há quem diga não ser possível libertar-nos aqui dos condicionamentos, mas sim em algum éden da posteridade, ou ao fim de um longo sacrifício, de uma disciplina ou submissão a um novo padrão da chamada prática religiosa.

Ora, a primeira coisa que devemos compreender nesta investigação é a natureza da autoridade. 

A lei é necessária em qualquer comunidade, o policial igualmente, porém introduzimo-lo também no mundo interior do pensamento e do sentimento. 

A obediência tem sido incutida neste mundo pela tradição, pela experiência e pelo hábito:-
- obediência aos Pais,
- à sociedade, 
- ao padre.

Todavia, a obediência nasce do medo:-
- medo de errar, 
- de agir independentemente, 
- de não estar em segurança, 
- de não fazer parte da comunidade. 

Portanto, o que gera o medo é a autoridade - medo de achar-se só, de cometer um engano. 

Queremos viver com o respeito e a consideração social, conforme estabelece a própria sociedade. 

Esse mesmo temor condicionou-nos o espírito; sob a sua influência é que se construiu a sociedade, à qual a mente se escravizou.  

O homem criou esta sociedade através do:-
- medo, 
- da avidez, 
-da ambição, 
-da inveja, etc.

A disciplina natural, sem qualquer submissão, é simplesmente a observação dos temores, das ansiedades, das invejas, e de outros negativos sentimentos. 

Ver a árvore, e ver os próprios temores, as próprias ambições, esse ato de ver é percepção, é disciplina. 

"Disciplina" significa aprender e não:-
- submissão, 
- repressão, ou
- obediência.

Assim, conhecer a natureza e a estrutura dos condicionamentos traz ordem, não a ordem da sociedade, a qual implica desordem.
 
Por conseguinte, ver o mundo com as suas guerras, seus ódios, as lutas e as confusões, equivale a ver nós mesmos como realmente somos, e ver-nos como somos significa ver o mundo que criamos e do qual em verdade participamos. 

E nessa percepção existe liberdade. 

Ver um perigo é evitá-lo. 

Perceber o perigo dos fortes condicionamentos do homem é evitar todos os condicionamentos. 

Em tudo isto o importante é ver não apenas com o intelecto, mas ainda com a visão sensorial.
 
Do Boletim de Londres, nº 34 da Krishnamurti Foundation


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